Sympathia e individuação

“(…) é inefável.

Por vezes, a relação ou análise prossegue em meias palavras, que são entendidas de um modo específico pela outra pessoa, mas que não podem ser repetidas quando se fala no caso. Podemos contar os sonhos e repetir o que dissemos ao analisando acerca do seu significado, mas sabemos perfeitamente bem que estamos contando apenas metade da história. Também há coisas que não podem ser contadas porque acontecem sem o nosso conhecimento. Alguém poderá dizer mais tarde: “Não me lembro do que você disse nessa altura, mas recordo que riu de certo jeito, o que me sugeriu algo”. Isso pode acontecer sem que nenhuma das partes o notasse na época, e tais efeitos não podem ser evitados nem podem ser comentados depois, embora sejam, de fato, suscetíveis de formar a base do processo analítico e terapêutico.

Também há a simpatia entre duas pessoas, a sympathia, que significa que elas sofrem juntas, se impressionam juntas, e essa condição de relacionamento “unido”, que decorre da participação na mesma experiência, não pode ser explicada – não porque se queira fazer disso um segredo, mas porque é inexplicável, irracional e muito complexa. Assim, podemos dizer que em todo e qualquer processo de análise há um segredo e, de modo geral, não se pode falar a esse respeito.

(…) Per definitionem, trata-se de uma individuação, o que significa algo único.

Portanto, é até motivo de desorientação descrever um caso único, porque as pessoas involuntariamente generalizam, pensando que agora entendem como a terapia é conduzidamas já estão pondo seus esforços a perder.

(…) Não está Ísis referindo-se a algo como isso, quando diz: “Tu és eu e eu sou tu”, após o que não há nada mais a dizer?

(…) Há nisso o “Eu sou tu e, tu és eu”, e esse é justamente o elemento que não pode ser contado. E a unio mystica, a coisa que acontece no fundo daquilo que tentamos destacar com a palavra “transferência”, tornando-a assim uma coisa técnica. Mas é um mistério real, uma experiência mística, uma experiência que, portanto, nunca pode ser comunicada nem compartilhada com outra pessoa.”

 

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia, Uma introdução ao simbolismo e seu significado na psicologia de Carl G. Jung, Ed. Cultrix 2022, Pág 117-118.

3a Palestra | Alquimia Grega

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