II Sermão

“Deus não morreu. Agora, como sempre, vive. Deus é criatura, coisa definida e, portanto, distinta do pleroma. Deus é qualidade do pleroma e tudo o que eu disse da criatura também se aplica a ele. Distingue-se, porém, dos seres criados no sentido de que é mais indefinido e indeterminável do que eles. É menos diferenciável que os seres criados, pois a base de sua existência é a plenitude efetiva. Só na medida em que for definido e distinto é criatura e na mesma proporção é manifestação da plenitude efetiva do pleroma. Tudo o que não distinguimos mergulha no pleroma e se anula pela antinomia. Se, portanto, não distinguimos Deus, a plenitude efetiva se extingue para nós. Além disso, Deus é o próprio pleroma, da mesma maneira que cada ponto ínfimo no criado e no incriado é o próprio pleroma.

Deus e o Diabo se distinguem pelas qualidades de plenitude e vácuo, criação e destruição. A EFETIVIDADE é comum a ambos. A efetividade os une. Paira, portanto, sobre ambos, é um deus acima de Deus, já que em seu efeito reúne a plenitude e o vácuo. Esse é um deus que não conheceis, pois a humanidade o esqueceu. Nós o chamamos pelo seu nome, ABRAXAS. É ainda mais indefinível que Deus e o Diabo.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 7017-7031.

Septem Sermones Ad Mortuos

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