transformação da Energia Psíquica

“Como a energia psíquica é transformada de uma expressão de simples instinto, da descarga de um poderoso impulso (isto é, comer porque se sente fome, ou copular porque se sente sexualmente excitado), para expressões e realizações culturais (por exemplo, haute cuisine ou composição musical)? (…) Jung argumenta em Psicologia do Inconsciente que essa transformação da energia pode acontecer em virtude da capacidade inata da mente humana para criar analogias. Os humanos possuem a competência e a necessidade para pensar em metáforas, e isso pode ser o esteio desse processo de transformação.

Assim, caçar, por exemplo, é como (gleich wie) procurar um parceiro sexual, de modo que essa analogia pode ser aplicada e usada a fim de gerar entusiasmo e excitação acerca da caça. Com o tempo, a atividade de caçar desenvolve os seus próprios significados e motivações culturais, e adquire uma vida própria.

“Devido a essa tendência para criar analogias, o mundo humano da consciência e da cultura é, com o tempo, vastamente ampliado:

É como se, por meio dessa formação fantástica da analogia, mais libido fosse ficando gradualmente dessexualizada, porquanto cada vez mais correlatos de fantasia eram postos no lugar da realização primitiva da libido sexual. Com isso uma ampliação enorme da idéia de mundo foi desenvolvida gradualmente porque novos objetos eram sempre assimilados como símbolos sexuais.”

“Em sua autobiografia, Jung recorda: Quando estava trabalhando no meu livro a respeito da libido e acercando-me do final do capítulo “O Sacrifício”, soube de antemão que a sua publicação iria custar a minha amizade com Freud. Pois eu planejara registrar nele a minha própria concepção de incesto, a transformação decisiva do conceito de libido… Para mim, só nos mais raros casos o incesto significou uma complicação pessoal. Usualmente, o incesto possui um aspecto eminentemente religioso, razão pela qual o tema do incesto desempenha um papel decisivo em quase todas as cosmogonias e em numerosos mitos. Mas Freud obstinou-se na sua interpretação literal e não pôde apreender a significação espiritual do incesto como um simbolo. Eu sabia que ele jamais seria capaz de aceitar qualquer das minhas ideias sobre esse assunto.”

“Por que era a concepção de Jung do incesto “a transformação decisiva do conceito de libido”? Era porque ele havia “desliteralizado” o desejo de incesto. Freud viu no incesto um desejo inconsciente de possuir sexualmente a mãe real, num sentido literal. Jung, por outro lado, interpretou simbolicamente o incesto como um anseio geral de permanência no paraíso da infância.”

Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 1657-1704.

3.Energia Psíquica (A transformação da Energia Psíquica)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Instintos

“Neste ponto de sua argumentação, Jung aborda o tema do instinto humano. O instinto tem

Leia mais

Processos psicoides

“Como prova da existência do inconsciente, Jung cita a dissociabilidade da psique. Em certos estados

Leia mais