“(…) pequeno resumo da história da alquimia do ponto de vista psicológico. Seu nascimento teve lugar quase que na mesma época em que Cristo nasceu. Houve algumas tentativas incipientes no século I a. C., mas foram difíceis de rastrear. Assim, pode-se dizer que a alquimia começou no século I a.C., com um período florescente na Grécia nos séculos II e III, seguido por um declínio gradual, que durou até o século X. Durante esse período, os principais textos foram transportados e traduzidos para o árabe, e nos séculos XVII e XVIII, nos diferentes pequenos países Fárabes, houve outro período florescente, após o qual a alquimia evoluiu para a história da química, seguindo o mesmo caminho que toda a física e a matemática. Por volta do século X, retornou à civilização cristã por meio dos árabes e dos judeus na Espanha e na Sicilia, e de lá invadiu os países ocidentais, uniu-se à filosofia escolástica e assim prosseguiu em seu desen volvimento ulterior.
A alquimia, no sentido mais estrito da palavra, teve dois pais: a filosofia racional grega, ou pode-se dizer, uma filosofia da natu-reza (refiro-me principalmente aos filósofos gregos pré-socráticos, como Empedocles, Tales de Mileto etc., e Heráclito) por um lado, e a tecnologia egípcia por outro. Os filósofos gregos, que, como todos vocês sabem, iniciaram o pensamento racional con-siderando os problemas relativos à natureza, à matéria, ao espaço e ao tempo, praticamente não faziam experiências, ou realizavam poucas. Suas teorias são apoiadas por certas observações, mas nunca lhes ocorreu, na verdade, experimentá-las de maneira efetiva. Por outro lado, havia, no Egito, uma técnica químico-mágica altamente desenvolvida, mas em geral os egípcios não pensavam a respeito dela, nem filosófica e nem teoricamente. Havia simplesmente a transmissão, por certas ordens sacerdotais, de receitas práticas acrescidas de alguma representação religiosa e mágica mas, eu diria, desacompanhada de reflexão teórica. Quando as duas tendências das civilizações grega e egípcia se encontraram, uniram-se num casamento muito fecundo e do qual a alquimia foi fruto.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura. Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.9-10.
1. Palestra
Origens da Alquimia: Tradições extrovertidas e introvertidas.