“Na vida humana, conseguia ajustar numerosas máscaras ao rosto, talhando-as conforme as situações. Aliás, não poderia supor, noutro tempo, que me seriam pedidas contas de episódios simples, que costumava considerar como fatos sem maior significação.

Deparava-se-me, porém, agora, outro sistema de verificação das faltas cometidas. Não me defrontavam tribunais de tortura, nem me surpreendiam abismos infernais; contudo, BENFEITORES SORRIDENTES COMENTAVAM-ME AS FRAQUEZAS COMO QUEM CUIDA DE UMA CRIANÇA DESORIENTADA, longe das vistas paternas. Aquele interesse espontâneo, no entanto, feria-me a vaidade de homem. Talvez que, visitado por figuras diabólicas a me torturarem, de tridente nas mãos, encontrasse forças para tornar a derrota menos amarga. Todavia, a bondade exuberante
de Clarêncio, a inflexão de
ternura do médico e a
calma fraternal do enfermeiro penetravam-me fundo o espírito.
Não me dilacerava
o desejo de reação;
doía-me a vergonha.
E chorei.

Minha visão espiritual só existia, agora, uma realidade torturante: era verdadeiramente um suicida,
perdera o ensejo precioso da experiência humana,
não passava de náufrago a quem se recolhia por caridade.”

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 4 | O MÉDICO ESPIRITUAL

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