“A QUEM RECORRER?
Por maior que fosse a cultura intelectual trazida do mundo, não poderia alterar
agora a realidade da vida.
Meus conhecimentos ante o infinito
semelhavam-se a pequenas bolhas de sabão levadas ao vento impetuoso que transforma as paisagens.”
“Eu era alguma coisa que o tufão da verdade carreava para muito longe. Entretanto, a situação não modificava a outra realidade do meu ser essencial. Perguntando a mim mesmo se não enlouquecera, encontrava a consciência vigilante, esclarecendo-me que CONTINUAVA A SER EU MESMO, com o sentimento e a cultura colhidos na experiência material.”
“Foi quando comecei a recordar que deveria existir um
Autor da Vida, fosse onde fosse. Essa ideia confortou-me.”
“Eu, que detestara as religiões no mundo, experimentava agora a necessidade de conforto místico.”
“E quando as energias me faltaram de todo, quando me senti absolutamente colado ao todo da Terra, sem forças para reerguer-me, pedi ao supremo Autor da natureza me estendesse mãos paternais, em tão amargurosa emergência.”
“Ah!
É preciso haver sofrido muito para entender todas as misteriosas belezas da oração;
É necessário haver conhecido o remorso,
a humilhação, a extrema desventura para tomar com eficácia o sublime elixir de esperança.”
“Foi nesse instante que as neblinas espessas se
dissiparam e alguém surgiu, emissário dos céus.
Um velhinho simpático me sorriu paternalmente. Inclinou-se, fixou nos meus os grandes olhos lúcidos e falou:
CORAGEM, MEU FILHO!
O SENHOR NÃO TE DESAMPARA.”
“– QUEM SOIS, GENEROSO EMISSÁRIO DE DEUS?”
“O inesperado benfeitor sorriu bondoso e respondeu”
“- Chama-me Clarêncio, sou apenas teu irmão.”
“E, percebendo o
meu esgotamento,
acrescentou:
– Agora permanece
calmo e
silencioso.
É preciso
descansar para
reaver as energias.”
“Em seguida, chamou dois companheiros que
guardavam atitude de servos desvelados e ordenou:
– Prestemos ao nosso amigo os socorros de emergência.”
Quando me alçavam cuidadosos, Clarêncio meditou um instante e esclareceu, como quem recorda inadiável obrigação:
– Vamos sem demora.
Preciso atingir Nosso Lar com a presteza possível.”
XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.
CAPÍTULO 2 | CLARÊNCIO