As referências a Espíritos do Umbral
mordiam-me a curiosidade. A ausência de
preparação religiosa no mundo dá motivo a dolorosas perturbações. QUE SERIA O UMBRAL?

Conhecia, apenas, a ideia do inferno e do purgatório, pelos sermões ouvidos nas cerimônias católico-romanas a que assistira, obedecendo a preceitos protocolares.
Desse Umbral, porém, nunca tivera notícias.

— O Umbral — continuou ele, solícito — começa na crosta terrestre.
É a zona obscura de quantos no mundo não se resolveram a atravessar as portas dos deveres sagrados, a fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão
ou no pântano dos erros numerosos.

Quando o Espírito reencarna, promete cumprir o programa de serviços do Pai; entretanto, ao recapitular experiências no planeta, é muito difícil fazê-lo, para só procurar o que lhe satisfaça ao egoísmo. Assim é que mantidos são o mesmo ódio aos adversários e a mesma paixão pelos amigos.

NEM O ÓDIO É JUSTIÇA, NEM A PAIXÃO É AMOR. Tudo o que excede, sem aproveitamento, prejudica a economia da vida.
Pois bem: todas as multidões de desequilibrados permanecem nas regiões nevoentas, que se seguem aos fluidos carnais.

O dever cumprido
é uma porta que atravessamos
no Infinito, rumo ao continente
sagrado da união com o Senhor.
É natural, portanto, que o homem esquivo à obrigação
justa tenha essa bênção indefinidamente adiada.

— Imagine que cada um de nós, renascendo no planeta,
é portador de um fato sujo, para lavar no tanque
da vida humana. Essa roupa imunda é o corpo causal,
tecido por nossas mãos, nas experiências anteriores.

O Umbral funciona, portanto, como região
destinada a esgotamento de resíduos
mentais; uma espécie de zona
purgatorial, onde se queima a prestações
o material deteriorado das ilusões
que a criatura adquiriu por
atacado, menosprezando
o sublime ensejo de
uma existência terrena.

— O Umbral é região de profundo interesse para quem esteja na Terra. Concentra-se, aí, tudo o que não tem finalidade para a vida superior. E note você que a Providência divina agiu sabiamente, permitindo se criasse tal departamento em torno do planeta. Há legiões compactas de almas irresolutas e ignorantes que não são suficientemente perversas para serem enviadas a colônias de reparação mais dolorosa, nem bastante nobres para serem conduzidas a planos de elevação. Representam fileiras de habitantes do Umbral, companheiros imediatos dos homens encarnados, separados deles apenas por leis vibratórias.

…semelhantes lugares se caracterizem por grandes perturbações.
Lá vivem, agrupam-se, os revoltados de toda espécie. Formam, igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela concentração
das tendências e desejos gerais.

Como explicar? Então não há por lá defesa, organização?
Sorriu o interlocutor, esclarecendo:
— Organização é atributo dos Espíritos organizados. Que quer você? A zona inferior a que nos referimos é qual a casa onde não há pão: todos gritam e ninguém tem razão. O viajante distraído perde o comboio, o agricultor que não semeou não pode colher. Uma certeza, porém, posso dar-lhe: — não obstante as sombras e angústias do Umbral, nunca faltou lá a proteção divina. CADA ESPÍRITO LÁ PERMANECE O TEMPO QUE SE FAÇA NECESSÁRIO. Para isso, meu amigo, permitiu o Senhor se erigissem muitas colônias como esta, consagradas ao trabalho e ao socorro espiritual.

— Creio, então — observei —,
que essa esfera se mistura quase com a esfera dos homens.
— Sim — confirmou o dedicado amigo —, e é nessa zona que se estendem os fios invisíveis que ligam as mentes humanas entre si. O plano está repleto de desencarnados e de formas-pensamento dos encarnados, porque, em verdade, todo Espírito, esteja onde estiver, é um núcleo irradiante de forças que criam, transformam ou destroem, exteriorizadas em vibrações que a ciência terrestre presentemente não pode compreender. Quem pensa está fazendo alguma coisa alhures. E é pelo pensamento que os homens encontram no Umbral os companheiros que afinam com as tendências de cada um. Toda alma é um ímã poderoso. Há uma extensa humanidade invisível que se segue à humanidade visível.

As missões mais laboriosas do Ministério do Auxílio são
constituídas por abnegados servidores, no Umbral, porque se
a tarefa dos bombeiros nas grandes cidades terrenas é difícil, pelas labaredas e ondas de fumo que os defrontam, os missionários
do Umbral encontram fluidos pesadíssimos emitidos sem cessar por milhares de mentes desequilibradas, na prática do mal,
ou terrivelmente flageladas nos sofrimentos retificadores.
São necessárias muita coragem e muita renúncia para ajudar a quem nada compreende do auxílio que se lhe oferece.

SERÁ QUE VOCÊ SE SENTE COM O PREPARO INDISPENSÁVEL A SEMELHANTE SERVIÇO?

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 12 | O UMBRAL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

(…) prometeu o governador a realização do culto evangélico no Ministério da Regeneração. O objetivo

Leia mais

Nos primeiros dias de setembro de 1939, Nosso Lar sofreu, igualmente, o choque por que

Leia mais