A esfera elevada, meu filho, requer, sempre, mais trabalho, maior abnegação. Não suponhas que tua mãe permaneça em visões beatíficas, a distância dos deveres justos. Devo fazer-te sentir, no entanto, que minhas palavras não representam qualquer
nota de tristeza, na situação em que me encontro.
É antes revelação de responsabilidade necessária.

Teu pai!… Há doze anos que está numa zona de trevas compactas, no Umbral. Na Terra, sempre nos parecera fiel às tradições da família, arraigado ao cavalheirismo do alto comércio,

(…), mas, no fundo, era fraco e mantinha ligações clandestinas
fora do nosso lar. Duas delas estavam mentalmente ligadas a
vasta rede de entidades maléficas, e, tão logo desencarnou o meu pobre Laerte, a passagem no Umbral lhe foi muito amarga, porque as desventuradas criaturas, a quem fizera
muitas promessas, aguardavam-no ansiosas, prendendo-o de novo nas teias da ilusão.

A princípio, ele quis reagir, esforçando-se por encontrar-me, mas não pôde compreender que após a morte do corpo físico a alma se encontra tal qual vive intrinsecamente. Laerte, portanto, não percebeu minha presença espiritual, nem a assistência desvelada de outros amigos nossos. Tendo gasto muitos anos a fingir, viciara a visão espiritual, restringira o padrão vibratório, e o resultado foi achar-se tão só na companhia das relações que cultivara irrefletidamente, pela mente e pelo coração.

NÃO É POSSÍVEL ACENDER LUZ
EM CANDEIA SEM ÓLEO E SEM PAVIO.
Precisamos da adesão mental de Laerte, para conseguir levantá-lo e abrir-lhe a visão espiritual. No entanto, o pobrezinho permanece inativo em si mesmo, entre a indiferença e a revolta.

Meu único auxílio direto repousava na cooperação afetuosa de tua irmã Luísa, aquela que partiu quando eras pequenino. Luísa esperou-me aqui muitos anos, foi meu braço forte nos trabalhos ásperos de amparo à família terrena. Ultimamente, contudo, depois de lutar corajosa, a meu lado, em benefício de teu pai, de ti e das irmãs, tão grande é a perturbação dos nossos familiares, ainda na Terra, que voltou a semana passada, a fim de reencarnar entre eles (…)

— A senhora, entretanto, auxilia o papai, não
obstante a ligação dele com essas mulheres infames?
— Não as classifiques assim — ponderou minha mãe —,
dize, antes, meu filho, nossas irmãs doentes, ignorantes
ou infelizes. São filhas de nosso Pai, igualmente.
Não tenho feito intercessões apenas por Laerte, mas por elas também, e estou convencida de haver encontrado recursos para atraí-los todos ao meu coração.

— A senhora, que tem acompanhado o papai devotadamente, nada poderá informar relativamente a Zélia e às crianças? Aguardo, ansioso, o instante de voltar a casa, a fim de auxiliá-los. Oh! minhas imensas saudades devem ser igualmente compartilhadas por eles! COMO DEVE SOFRER MINHA DESVENTURADA ESPOSA COM ESTA SEPARAÇÃO!…

Minha mãe esboçou um
sorriso triste e acrescentou:
— Tenho visitado meus netos periodicamente.
Vão bem.

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 16 | CONFIDÊNCIAS

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