Ao cair da noite, já me sentia integrado no mecanismo dos passes, aplicando-os aos necessitados de toda sorte.

(…) Nada obstante o convite amável da genitora de Lísias para que voltasse a casa por descansar, Tobias pôs à minha disposição um apartamento de repouso, ao lado das Câmaras de Retificação, e aconselhou-me algum descanso.
De fato, sentia grande necessidade do sono. Narcisa preparou-me
o leito com desvelos de irmã.

Recolhido ao quarto confortável e espaçoso,
orei ao Senhor da Vida, agradecendo-lhe a bênção de ter sido útil.
A “proveitosa fadiga” dos que cumprem o dever não me deu ensejo a qualquer vigília desagradável.

Daí a instantes, sensações de leveza invadiram-me a alma toda e tive a impressão de ser arrebatado em pequenino barco, rumando a regiões desconhecidas. Para onde me dirigia?

Impossível responder.
A MEU LADO, UM HOMEM SILENCIOSO
SUSTINHA O LEME. E qual criança que não pode
enumerar nem definir as belezas do caminho, deixava-me
conduzir sem exclamações de qualquer natureza, extasiado
embora com as magnificências da paisagem.

Parecia-me que a embarcação seguia célere,
não obstante os movimentos de ascensão.

Decorridos minutos, vi-me à frente de um porto maravilhoso, onde alguém me chamou com especial carinho:

– André!… André!…

Desembarquei com precipitação verdadeiramente infantil. Reconheceria aquela voz entre milhares. Num momento, abraçava minha mãe em transbordamentos de júbilo.

Fui conduzido, então, por ela, a prodigioso bosque, onde as flores eram dotadas de singular propriedade – a de reter a luz, revelando a festa permanente do perfume e da cor. Tapetes dourados e luminosos estendiam-se, dessa maneira, sob as grandes árvores sussurrantes ao vento. Minhas impressões de felicidade e paz eram inexcedíveis.

O sonho não era propriamente qual se verifica na Terra. Eu sabia, perfeitamente, que deixara o veículo inferior no apartamento das Câmaras de Retificação, em Nosso Lar, e tinha absoluta consciência daquela movimentação em plano diverso. MINHAS NOÇÕES DE ESPAÇO E TEMPO ERAM EXATAS.

– Muito roguei a Jesus me permitisse a sublime satisfação de ter-te
a meu lado, no teu primeiro dia de serviço útil. Como vês, meu filho, o trabalho é tônico divino para o coração. Numerosos companheiros nossos, após deixarem a Terra, demoram em atitudes contraproducentes, aguardando milagres que jamais se verificarão. Reduzem-se, desse modo, formosas capacidades a simples expressões parasitárias.

O Evangelho de Jesus, meu André – continuou amorosamente -, lembra-nos que há maior alegria em dar que em receber. Aprendamos a concretizar semelhante princípio, no esforço diário a que formos conduzidos pela nossa própria felicidade.
Dá sempre, filho meu.

Sobretudo, JAMAIS ESQUEÇAS DAR DE TI MESMO,
em tolerância construtiva, em amor fraternal e divina compreensão.
A prática do bem exterior é um ensinamento e um apelo para que cheguemos à prática do bem interior.

TRABALHA,
MEU FILHO,
FAZENDO O BEM.

Qual o menino que adormece após a lição, perdi a consciência de mim mesmo, para despertar mais tarde nas Câmaras de Retificação, experimentando vigorosas sensações de alegria.

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 36 | O SONHO

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Ainda não voltara a mim da profunda surpresa, quando Salústio se aproximou, informando a Narcisa:

Leia mais

— Calma, Francisco — pedia a companheira dos infortunados —, você vai libertar-se, ganhar muita

Leia mais