O caso Tobias impressionara-me profundamente.

Aquela casa, alicerçada em princípios novos de união fraterna, preocupava-me como assunto obsidente. Afinal de contas, também ainda me sentia senhor do lar terrestre e avaliava quão difícil para mim próprio seria semelhante situação. Teria coragem de proceder como Tobias, imitando-lhe a conduta? Admitia que não. A meu ver, não seria capaz de aborrecer tanto a minha querida Zélia e jamais aceitaria tal imposição por parte de minha esposa.

Aquelas observações da casa de Tobias
torturavam-me o cérebro.

VOCÊ FEZ BEM EM TRAZER A QUESTÃO
AO NOSSO ESTUDO RECÍPROCO. TODO PROBLEMA
QUE TORTURE A ALMA PEDE COOPERAÇÃO AMIGA PARA SER RESOLVIDO.

— Quando nos atemos aos pontos de vista propriamente humanos, essas coisas dão até para escandalizar; entretanto, meu amigo, é necessário, agora, sobrepormos a tudo os princípios de natureza espiritual. Nesse sentido, André, precisamos compreender o espírito de sequência que rege os quadros evolutivos da vida. Se atravessamos longa escala de animalidade, é justo que essa animalidade não desapareça de um dia para outro. Empregamos muitos séculos para emergir das camadas inferiores. O SEXO INTEGRA O PATRIMÔNIO DE FACULDADES DIVINAS, QUE DEMORAMOS A COMPREENDER. Não será fácil para você, presentemente, a penetração, no sentido elevado, da organização doméstica que visitou ontem; entretanto, a felicidade, ali, é muito grande, pela atmosfera de compreensão que se criou entre as personagens do drama terrestre. Nem todos conseguem substituir cadeias de sombra por laços de luz em tão pouco tempo.

O CASO TOBIAS É O CASO DE VITÓRIA DA FRATERNIDADE REAL, POR PARTE DAS TRÊS ALMAS INTERESSADAS NA AQUISIÇÃO DE JUSTO ENTENDIMENTO. Quem não se adaptar à lei de fraternidade e compreensão, logicamente, não atravessará essas fronteiras. As regiões obscuras do Umbral estão cheias de entidades que não resistiram a semelhantes provas.

Enquanto odiarem, serão ímãs desequilibrados;
enquanto não entenderem a verdade, sofrerão o império
da mentira e, consequentemente, não poderão penetrar
as zonas de atividade superior.

— E que acontece, então? – interroguei, valendo-me da pausa da interlocutora. – Se não são admitidas aos núcleos espirituais de aprendizado nobre, onde se localizarão as pobres almas em experiências dessa ordem?

— Depois de padecimentos verdadeiramente infernais, pelas criações inferiores que inventam para si mesmas — redarguiu a mãe de Lísias —, vão fazer na experiência carnal o que não conseguiram realizar em ambiente estranho ao corpo terrestre. Concede-lhes a Bondade divina o esquecimento do passado, na organização física do planeta, e vão receber, nos laços da consanguinidade, aqueles de quem se afastaram deliberadamente pelo veneno do ódio ou da incompreensão. Daí se infere a oportunidade, cada vez mais viva, da recomendação de Jesus, quando nos aconselha imediata reconciliação com os adversários.

Há muitos Espíritos que gastam séculos tentando desfazer animosidades e antipatias na existência terrestre e refazendo-as após a desencarnação. O problema do perdão, com Jesus, meu caro André, é problema sério. Não se resolve em conversas. Perdoar verbalmente é questão de palavras, mas aquele que perdoa realmente precisa mover e remover pesados fardos de outras eras, dentro de si mesmo.

Aos Espíritos ainda em simples experiência animal,
nossa conversação não interessa, mas, para nós, que compreendemos a necessidade da iluminação com o Cristo,
é imprescindível destacar não só a experiência do casamento, mas toda experiência de sexo, por afetar profundamente a vida da alma.

Toda experiência sexual da criatura que já recebeu alguma luz do espírito é acontecimento de enorme importância para si mesma. É por isso que o entendimento fraterno precede a qualquer trabalho verdadeiramente salvacionista. Ainda há pouco tempo ouvi um grande instrutor no Ministério da Elevação assegurar que, se pudesse, iria materializar-se nos planos carnais, a fim de dizer aos religiosos, em geral, que toda caridade, para ser divina, precisa apoiar-se na fraternidade.

XAVIER, Francisco Cândido / André Luiz. Nosso Lar. 1. ed. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 1944. Edição Kindle.

CAPÍTULO 38 | O CASO TOBIAS + CAPÍTULO 39 | OUVINDO A SENHORA LAURA

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