O fogo na alquimia

“Na alquimia o fogo é usado (como aparece literalmente em alguns textos) para “queimar tudo o que é supérfluo”, de tal modo que somente o núcleo indestrutível permaneça. Consequentemente, os alquimistas começam por calcinar a maior parte das substâncias que utilizam, destruindo o que precisa ser destruído. Aquilo que resistiu ao fogo, o resíduo sólido que sobrevive à calcinação, tem o símbolo de imortalidade. O fogo é, portanto, o grande agente de transformação. Em certos textos gnósticos, o fogo é também chamado de “O Grande Juiz”, porque ele julga, por assim dizer, determi- nando o que tem valor para sobreviver e o que deve ser destruído. Tudo isso se aplica, também, ao significado psicológico, pois por fogo entende-se o calor das reações emocionais e dos afetos. Sem o fogo da emoção nenhum desenvolvimento ocorre e nenhuma conscientização maior pode ser alcançada. É por isso que Deus diz: “Oxalá fosses frio ou quente, mas porque és morno e não és quente nem frio, estou para te vomitar da minha boca” (Apocalipse 3, 16). Se na análise terapêutica aparecer alguém que é indiferente a ela, se for desapaixonado, se não sofrer, se não houver o fogo do desespero, nem ira, nem conflito, nem fúria, nem aborrecimento, nem nada dessa espécie, pode-se estar certo de que quase nada será constelado e que será uma análise chocha, insípida, um eterno “blá-blá-blá”. Então o fogo, ainda que seja uma forma destrutiva de fogo (conflito, ódio, ciúmes, ou qualquer ou- tra emoção), acelera o processo de amadurecimento, sendo realmente um “juiz” que esclarece as coisas.

(…)

Consequentemente, todos os fogos mágicos e de rituais religiosos têm a qualidade sagrada de transformação. (…) Os sonhos nos quais cidades inteiras são queimadas, ou que a nossa própria casa é destruída pelo fogo indicam, em regra geral, um afeto já existente que se tornou completamente fora de controle. Sempre que uma emoção ultrapassa o controle do indivíduo, aparece o fogo destrutivo como tema.”

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág.130-131.

6.As três Penas (conclusão)

 

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