“Até mesmo um bebê de meses nota a ocorrência de mudanças em seu meio ambiente, algumas das quais lhe parecem agradáveis e estende os braços para agarrá-las. Esses sinais precoces da intencionalidade de um organismo são provas evidentes no tocante às raízes primordiais do ego, a “egoidade” do indivíduo.
Embora muitas características do ego claramente se desenvolvam e mudem, sobretudo no que se refere à cognição, autoconhecimento, identidade psicossocial, competência, etc., uma pessoa também se apercebe de uma importante continuidade no núcleo do ego. Muitas pessoas ficam emocionadas ao descobrir a “criança que existe dentro delas”. Isso nada mais é do que o reconhecimento de que a pessoa que eu era como criança é a mesma pessoa que sou como adulto.
Uma criança diz pela primeira vez “eu” por volta dos dois anos. Até então, ela refere-se a si mesma na terceira pessoa ou pelo nome: “Dudu quer” ou “Tininha vai”. Quando uma criança é capaz de dizer “eu” e pensar em referência a si mesma, colocando-se conscientemente no centro de um mundo pessoal e atribuindo a essa posição um específico pronome na primeira pessoa, ela deu um grande salto para diante em consciência. Mas isso não é, em absoluto, o nascimento do ego primordial. Muito antes disso, consciência e comportamento foram organizados em torno de um centro virtual. O ego existe claramente antes de podermos referir-nos a ele de uma forma consciente e reflexiva, e o processo de aprender a conhecê-lo é gradual e prossegue ao longo da vida inteira.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 518-537.
1.Superfície (Consciência do Ego)