“Os paralelos que Jung descobriu entre imagens e mitos de indivíduos e grupos em períodos e locais históricos sem qualquer relação entre si levaram-no a intensificar sua busca de uma explicação. Existe um ponto comum de origem para imagens psicóticas, imagens oníricas e produções de fantasias pessoais, por um lado, e imagens e pensamentos míticos e religiosos coletivos, por outro? Jung estava explorando características comuns no pensamento e na imaginação humanos. Para levar essa pesquisa adiante, tinha que induzir os seus pacientes a revelarem suas fantasias e pensamentos inconscientes.”
“(…)”De conformidade com o gosto ou os dotes pessoais, cada Um poderia fazê-lo de forma teatral, dialética, visual, acústica, ou em forma de dança, pintura, desenho ou modelagem. O resultado desta técnica era toda uma série de produções artísticas complicadas cuja multiplicidade me deixou confuso durante anos, até que eu estivesse em condições de reconhecer que esse método era a manifestação espontânea de um processo em si desconhecido, sustentado unicamente pela habilidade técnica do paciente, e ao qual, mais tarde, dei o nome de ‘processo de individuação’.”
“A multidão caótica de imagens com que deparamos no início reduziu-se, no decorrer do trabalho, a determinados ternas e elementos formais que se repetiam de forma idêntica ou análoga nos mais variados individuos. Menciono, como a característica mais saliente, a multiplicidade caótica e a ordem, a dualidade, a oposição entre luz e trevas, entre o supremo e o infimo, entre a direita e a esquerda, a união dos opostos em um terceiro, a quaternidade (o quadrado, a cruz), a rotação (círculo, esfera) e, finalmente, o processo de centralização e o arranjo radial, em geral dentro de um sistema quaternário. (…) O processo de centralização constitui, segundo me diz a experiência, o ponto mais alto e jamais ultrapassado de todo o desenvolvimento, e se caracteriza como tal pelo fato de coincidir com o maior efeito terapéutica possível.”
“Jung apresentou esse trabalho na Conferência Eranos de 1946, em Ascona, Suíça, onde muitos de seus principais ensaios foram apresentados, e a que ele compareceu desde a inauguração desse evento em 1933 até 1960, o ano anterior à sua morte. As
pessoas aí se reuniam anualmente de todas as partes do mundo. Os interesses dos conferencistas gravitavam em torno, principalmente, da psicologia e da religião, em especial as religiões orientais. Olga Froebe Kapetyn, a fundadora do empreendimento e cujo sério interesse pelo pensamento oriental e todas as espécies de ocultismo vinha de longa data, tinha tomado a iniciativa de reunir especialistas de prestigio para que vários tópicos fossem debatidos. Uma assistência de tal gabarito parecia ter estimulado verdadeiramente Jung a mobilizar seus melhores esforços.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 2340-2388.
4.As Fronteiras da Psique (O Inconsciente)