Projeção religiosa

“Houve também alguns movimentos cristãos não oficiais, atualmente englobados sob a denominação genérica de movimentos de pré-Reforma, mas que estavam acima de tudo preocupados com a terceira pessoa da Trindade, o Espírito Santo.

A tendência era a de que o indivíduo tentasse se relacionar com o Espírito Santo através de sonhos, visões intcriores e revelações pessoais, em antagonismo com o corpo doutrinário oficial da Igreja. Alguns desses movimentos centralizados no Espírito Santo permaneceram e formaram um movimento de esquerda dentro da própria Igreja Católica, enquanto outros fracassaram e seus membros foram condenados e perseguidos. Muitas dessas pessoas demonstravam afinidade por ideias e preocupações alquímicas. (…) Dessa maneira, observa-se, em geral, o que Jung apontava na Introdução de Psicologia e Alquimia, a saber, que a alquimia nunca foi hostil às ideias e aos movimentos religiosos predominantes, mas formava, isso sim, uma espécie de tendência subterrânea complementar.”

Na introdução de Psicologia e Alquimia, Jung diz:

“Uma projeção exclusivamente religiosa [isto é, essa tendência que há na doutrina cristã oficial para depreciar qualquer tipo de vida religiosa pessoal interior, deve-se apenas acreditar na figura histórica de Jesus e na tradição dogmática sobre Ele, e não tentar obter orientação a respeito de assuntos religiosos a partir daquilo que os homens da Igreja chamariam de fator puramente subjetivo. Dessa maneira, o cristianismo expressa a verdade da alma, porém numa forma exterior, projetada], pode privar a alma de seus valores, de tal forma que, por pura inanição, ela se torna incapaz de maior desenvolvimento e fica presa num estado inconsciente. Ao mesmo tempo, torna-se vítima da ilusão de que a causa de todos os desastres vem de fora, e às pessoas não se pergunta mais até que ponto elas mesmas são as causadoras. A alma parece tão insignificante que não se supõe ser ela capaz de produzir nenhum mal, muito menos um bem. Mas se a alma não tem mais nenhum papel a cumprir, a vida religiosa se enrijece nas exterioridades e formalidades. Como quer que visualizemos o relacionamento entre Deus e a alma, uma coisa é certa: não se pode dizer que a alma é “nada mais quê”. Ao contrário, ela tem a dignidade de uma entidade dotada de um relacionamento consciente com a Divindade.'”

VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura.  Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.48-50.

1. Palestra

Origens da Alquimia: Tradições extrovertidas e introvertidas.

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