A alma secreta das coisas

(…) o velho princípio dos alquimistas, segundo o qual o objeto precioso que buscamos será encontrado na matéria mais vil. Kandinsky expressou as mesmas ideias quando escreveu: “Tudo que está morto palpita. Não apenas o que pertence à poesia, às estrelas, à Lua, aos bosques e às flores, mas também um simples botão branco de calça a cintilar na lama da rua… Tudo possui uma alma secreta, que se cala mais do que fala.

Os artistas, como os alquimistas, provavelmente não se deram conta do fato psicológico de que estavam projetando parte da sua psique sobre a matéria ou sobre objetos inanimados. Daí a “misteriosa animação” que se apossa dessas coisas e o grande valor que se atribui até mesmo ao lixo.

Os pintores começaram a pensar a respeito do “objeto mágico” e da “alma secreta” das coisas. O pintor italiano Carlo Carrà escreveu: “São as coisas comuns que nos revelam as formas simples pelas quais podemos alcançar a condição mais elevada e significativa do ser, onde se encontra todo o esplendor da arte.” Diz Paul Klee: “O objeto expande-se além dos limites da sua aparência pelo conhecimento que temos de que ele significa mais do que o que vemos exteriormente, com os nossos olhos.” E segundo Jean Bazaine: “Um objeto desperta o nosso amor simplesmente porque pare-ce ser portador de forças maiores que ele mesmo.”

A sensação de que o objeto significa “mais do que o olho pode perceber” que é compartilhada por muitos artistas encontrou expressão realmente notável no trabalho do pintor italiano Giorgio de Chirico. De temperamento místico, era um investigador trágico que não encontrava nunca o que buscava. Escreveu no seu autorretrato, em 1908: Et quid amabo nisi quod aenigma est? (“E o que devo eu amar, senão o enigma?”).

Chirico foi o fundador da chamada pintura metafisica. “Todo objeto”, escreveu ele, “tem dois aspectos: o aspecto comum, que é o que vemos em geral e que os outros também veem, e o aspecto fantasmagórico e metafísico que só uns raros indivíduos veem nos seus momentos de clarividência e meditação metafisica. Uma obra de arte deve exprimir algo que não apareça na sua forma visível”.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 341-343.

IV O simbolismo nas artes plásticas

Aniela Jaffé

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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