“Comecei este ensaio acentuando a diferença existente entre um sinal e um símbolo O sinal é sempre menos do que o conceito que ele representa, enquanto o símbolo significa sempre mais do que o seu significado imediato e óbvio. Os símbolos, no entanto, são produtos naturais e espontâneos. (…) Nos sonhos os símbolos surgem espontaneamente, pois sonhos acontecem, não são inventados; eles constituem, assim, a fonte principal de todo o nos so conhecimento a respeito do simbolismo.
Devo fazer notar, no entanto, que os símbolos não ocorrem apenas nos sonhos; aparecem em todos os tipos de manifestações psíquicas. Existem pensamentos e sentimentos simbólicos, situações e atos simbólicos. Parece mesmo que, muitas vezes, objetos inanimados cooperam com o inconsciente criando formas simbólicas. Há numerosas histórias verdadeiras de relógios que param no momento em que seu dono morre, como aconteceu com o relógio de pêndulo no palácio de Frederico, o Grande, em Sanssouci, que parou no momento da morte do rei.
Mesmo que os céticos se recusem a acreditar nessas histórias, a verdade é que elas estão sempre acontecendo, e só isto basta como prova da sua importância psicológica.
Há muitos símbolos, no entanto (e entre eles alguns de grande valor), cuja natureza e origem não é individual mas sim coletiva.
(…) disse eu sempre a meus alunos: “Aprendam tanto quanto puderem a respeito do simbolismo; depois, quando forem analisar um sonho, esqueçam tudo.” Esse conselho tem tal importância prática que fiz dele uma lei para lembrar a mim mesmo que jamais poderei entender suficientemente bem o sonho alheio a ponto de interpretá-lo de modo perfeito. Estabeleci essa regra com o objetivo de impedir o fluxo das minhas próprias associações e reações que, de outro modo, acabariam predominando sobre as perplexidades e hesitações dos meus pacientes. ”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 64-65.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung