A função da sombra

“Portanto, seja qual for a forma que tome, a função da sombra é representar o lado contrário do ego e encarnar, precisamente, os traços de caráter que mais detestamos nos outros.

Quando Jung chamou de “sombra” um determinado aspecto da personalidade inconsciente, referia-se a um fator relativamente definido. Mas, por vezes, tudo que o ego desconhece mistura-se à sombra, incluindo as mais valiosas e nobres forças.

(…)

As dificuldades éticas que surgem ao encontrarmos nossa sombra estão bem descritas no Livro do Alcorão, em edição publicada no século XVIII. Moisés encontra Khidr (“o primeiro anjo de Deus”) no deserto. Vagueiam juntos e Khidr exprime o seu receio de que Moisés não seja capaz de assistir aos seus feitos sem revoltar-se. Se Moisés não puder compreendê-lo nem confiar nele, Khidr terá que deixá-lo.

Naquele momento, Khidr põe a pique o barco pesqueiro de alguns pobres aldeões; mata, diante de Moisés, um formoso jovem; e, finalmente, restaura os muros tombados de uma cidade de ateus. Moisés não consegue deixar de exprimir-lhe sua desaprovação e Khidr vê-se obrigado a deixá-lo. Antes de partir, no entanto, explica-lhe o motivo daquelas ações: afundando o barco, salvou-o para os próprios donos, já que aproximavam-se piratas para roubar a embarcação; agora os pescadores poderiam recuperá-lo. O formoso jovem preparava-se para cometer um crime; matando-o, Khidr poupou os seus bondosos pais da infâmia. Restaurando os muros, dois piedosos jovens foram salvos da ruína, já que um tesouro que lhes pertencia estava enterrado debaixo das pedras. Moisés, que se indignara tanto, viu então (tardiamente) quanto seu julgamento fora precipitado. As ações de Khidr pareciam más; na realidade não o eram.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 229-230.

III O processo de individuação

M.-L. Von Franz

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