(…) Um ego imaturo tende a achar prazeroso render-se à permanência numa feliz regressão; todavia, num estágio posterior do desenvolvimento, a perspectiva de solutio vai gerar grande ansiedade, porque o estado de autonomia do ego, alcançado a duras penas, estará sendo ameaçado de dissolução.

(…)

Muitas modalidades de nostalgia e de saudade não significam senão um retorno ao incesto urobórico e à autodissolução, abarcando desde a unio mystica do santo até o anseio de inconsciência do beberrão, passando pelo romantismo da morte das raças germânicas. O incesto que qualificamos como “urobórico” é auto-entrega e regressão. É a forma de incesto do ego infantil, que ainda se acha muito próximo da mãe e ainda não alcançou a si mesmo; mas o ego enfermo do neurótico também pode assumi-la, assim como o pode um ego posterior exausto que se apega outra vez à mãe depois de ter alcançado sua realização.

Um exemplo de anseio por uma solutio feliz é o desejo de Siegfried no sentido de unir-se a Brunilda no Anel dos Nibelungos de Wagner (ver figura 3-1):

Before me a wondrous river flows with all my senses I only see its joyous, billowing waters… still would I plunge in the cooling water, myself, as I am, ending my pains: O that its billows Might drown me in bliss and quench my fire with its waves!?

[A minha frente / flui um rio de prodígios/Com todos os sentidos/ diviso apenas / sua alegre e borbulhante água… / ainda vou mergulhar / na água refrescante, / eu, tal como sou, / e acabar minhas dores: / Ó, que suas vagas /me afoguem em bênçãos / e suas ondas me acalmem este ardor!]

Outro exemplo é a canção da morte de Isolda no ato 3, cena 4 do grande drama de solutio de Wagner, Tristão e Isolda:

Neumann, The Origins and History of Consciousness, p. 17.

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág. 69.

Capítulo 3 Solutio