Animus: O elemento masculino interior

“A personificação masculina do inconsciente na mulher – o animus– apresenta, tal como a anima no homem, aspectos positivos e negativos. Mas o animus não costuma se manifestar sob a forma de fantasias ou inclinações eróticas; aparece mais comumente como uma convicção secreta “sagrada”. Quando uma mulher anuncia tal convicção com voz forte, masculina e insistente, ou a impõe ás outras pessoas por meio de cenas violentas, reconhece-se facilmente a sua masculinidade encoberta. No entanto, mesmo em uma mulher que exteriormente se revele muito feminina, o animus pode também ter uma força igualmente firme e inexorável. De repente podemos nos deparar com algo de obstinado, frio e totalmente inacessível em uma mulher.

Um dos temas favoritos do animus que esse tipo de mulher remói sem cessar é:c”A única coisa no mundo que eu desejo é amor – e “ele não me ama”; ou “nesta situação existem apenas duas possibilidades e ambas são igualmente más” (o animus nunca aceita exceções).

(…) Joana d’Arc (…) cujo animus o lado masculino da psique feminina – toma a forma de uma “convicção sagrada”.

Assim como o caráter da anima masculina é moldado pela mãe, o animus é basicamente influenciado pelo pai da mulher. É o pai que dá ao animus da filha convicções incontestavelmente “verdadeiras”, irretrucáveis e de um colorido todo especial convicções que nunca têm a ver com a pessoa real que é aquela mulher.

(…) o rapto de Perséfone por Hades. Mas psicologicamente ele representa uma forma particular do animus, que afasta as mulheres de qualquer relacionamento humano e, sobretudo, de qualquer contato com os homens. Personifica uma espécie de “casulo” dos pensamentos oníricos, dos desejos e julgamentos que definem as situações como elas “deveriam ser”, afastando a mulher da realidade da vida.

O animus negativo não aparece apenas como o demônio da morte. Nos mitos e contos de fadas ele faz o papel de assaltante ou de assassino. Barba Azul, que mata em segredo todas as suas mulheres, é um exemplo desse tipo de animus. Sob essa forma, o animus personifica todas as reflexões semiconscientes, frias e destruidoras que invadem uma mulher durante a madrugada, especialmente quando ela deixou de realizar alguma obrigação ditada pelos seus sentimentos. É então que ela se põe a pensar nas heranças de família e em outros problemas do mesmo tipo tecendo uma espécie de rede de pensamentos calculistas, de malícia e intriga, que a leva até mesmo a desejar a morte de outras pessoas (“Quando um de nós morrer, vou mudar-me para a Riviera”, disse uma mulher ao marido quando visitavam a costa mediterrânea um pensamento que se tornou relativamente inocente porque ela o exprimiu!).

Acalentando secretamente tais atitudes destruidoras, uma mulher pode levar o marido a adoecer, se acidentar ou até mesmo morrer, ou a mãe pode fazer o mesmo aos filhos.

O animus é, muitas vezes, personificado como um grupo de homens. O animus negativo pode surgir encarnado num perigoso bando de criminosos, como os provocadores de naufrágios (acima, num quadro italiano do século XVIII) que, por meio das luzes de fogos, atraíam os navios de encontro às rochas, matavam os sobreviventes e pilhavam os destroços.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 251-254.

III O processo de individuação

M.-L. Von Franz

 

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Sombra

“SOMBRA — A parte inferior da personalidade. Soma de todos os elementos psíquicos pessoais e

Leia mais

Sincronicidade

“SINCRONICIDADE — Termo criado por Jung, que exprime uma coincidência significativa ou uma correspondência: a)

Leia mais