“A primeira etapa é caracterizada pela participation mystique, um termo tomado do antropólogo francês Lévy-Bruhl. A participation mystique refere-se a uma identificação entre a consciência do indivíduo e o seu mundo circundante, sem que ele tenha conhecimento de que se encontra nesse estado; a consciência e o objeto com o qual o indivíduo está identificado são misteriosamente a mesma coisa.”
“A maioria das pessoas estão ligadas às suas famílias, pelo menos no começo da vida, por participação mística, a qual se baseia em identificação, introjeção e projeção. Esses termos descrevem a mesma coisa: uma entremistura de conteúdos internos e externos. No começo, o bebê é literalmente incapaz de distinguir onde ele termina e onde a mãe começa. O mundo do bebê é sumamente unificado. Nesse sentido, a primeira etapa de consciência é como que uma antecipação da etapa final: a unificação suprema das partes num todo. No começo, porém, é uma totalidade inconsciente, ao passo que no final o sentido de integração e totalidade é consciente.”
“Os pais são, inicialmente, os principais portadores de projeção, e os filhos pequenos projetam neles, inconscientemente, onipotência e onisciência. São o que Jung chamou de projeções arquetípicas. Os pais tornam-se deuses, investidos de poderes que as pessoas têm atribuído ao divino. (…) A chocante revelação de que os próprios pais não sabem tudo e podem ser qualquer coisa menos deuses ocorre usualmente durante a adolescência e então, durante um certo tempo, Os pais “estão completamente por fora” (um outro tipo de projeção). (…) Os professores e a própria escola também recebem muitas projeções. De fato, numerosas figuras em nosso meio ambiente tornam-se portadoras de projeção na segunda etapa de desenvolvimento da consciência. Isso confere às pessoas e instituições o poder de formar e modelar vigorosamente a nossa consciência, enchendo-a com os conhecimentos e opiniões delas, e substituindo gradualmente a nossa própria experiência pessoal por opiniões, pontos de vista e valores coletivos. Esse é o processo de aculturação e adaptação que tem lugar na infância e adolescência.
Enamorar-se e casar baseiam-se tipicamente em maciças projeções de anima e animus, e isso leva diretamente ao nascimento e criação dos filhos; durante esse período, os filhos tornam-se portadores de projeções da criança divina. Tal como a primeira etapa, a segunda é outra que ninguém deixa completamente para trás.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 4328-4379.
8. O surgimento do si-mesmo (As cinco etapas da consciência)