As três Penas (continuação)

“(…)Penas representam pensamentos ou fantasias, elas se colocam, pars pro totto, como pássaros, e o vento é um símbolo bem conhecido da inspiração espiritual do inconsciente. Então este tema significaria que alguém deixa a sua própria imaginação ou pensamentos vagarem, seguindo as inspirações que vêm do inconsciente. Precisa- se seguir esse ritual, se se está numa encruzilhada e não se sabe que direção tomar. Ao invés de decidir a partir de considerações do ego, espere-se por uma sugestão do inconsciente, deixando-o pronunciar-se acerca do pro- blema. Pode-se compreender este apecto do conto como uma compensação para a situação coletiva dominante, que parece ter perdido contato com o elemento irracional feminino; como consequência, ocorre habitualmente uma atitude muito racional, muito ordenada e muito organizada. Junto com o feminino está o sentimento, o irracional e a fantasia e aqui, ao invés de dizer aos filhos onde ir, o velho rei tem um gesto que possibilita uma renovação, permitindo ao vento que decida. A pena do Tolo cai bem à sua frente, no chão, onde ele descobre um alçapão com degraus que o conduzem para as pro- fundezas da Mãe Terra.

(…)

Se há um alçapão com degraus conduzindo à terra, isso não é a mesma coisa que se houvesse uma cavidade natural. Aqui, os seres humanos deixaram suas marcas, talvez houvesse um prédio, ou ainda, um porão de um castelo, cuja parte superior tivesse desaparecido há muito tempo ou, mesmo, um esconderijo de uma civilização que não mais existe. Quando, em sonhos, as figuras descem para dentro da terra ou da água, habitualmente são interpretadas de maneira superficial, como um descensus ad inferos, como uma descida ao mundo subterrâneo, nas profundezas do inconsciente. Mas deve-se observar se é uma descida inconsciente de natureza virginal, ou se há traços de civilização. Esse último caso indicaria que houve elementos que foram uma vez conscientes, mas que mergulharam de volta ao inconsciente, como um castelo que pode cair em ruína e restar o porão, deixando marcas da forma de vida anterior.”

FRANZ, Marie-Louise von. A interpretação dos contos de fadas. São Paulo: Paulus, 2022, pág. 92-93.

5. As três Penas (continuação)

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