“Delbrücke Forel mostraram a importância da autossugestão no desenvolvimento da vigarice e devaneios patológicos. Pick considera como primeiro sintoma dos sonhadores histéri cos uma autossugestionabilidade intensa que torna possível a realização dos “devaneios”. Uma paciente de Pick fantasiou uma situação moralmente perigosa e criou uma cena de estupro com ela mesma; deitou-se nua no chão e amarrou-se em cadeiras e na mesa. Ou os pacientes criam algum personagem dramático com o qual mantêm correspondência por carta como, por exemplo, no caso descrito por Bohn: Uma paciente fantasiou um noivado com um advogado imaginário de Nice, dele recebendo cartas que ela mesma escrevia com letra disfarçada. Este tipo de sonho patológico com falsificação autossugerida da memória, chegando mesmo a delírios e alucinações propriamente ditos, encontramos também na vida de muitos santos. Das representações oníricas e de coloração fortemente sensória para uma autêntica alucinação complexa é apenas um passo. (…) O mentiroso patológico que se deixa levar por suas fantasias, comporta-se da mesma forma que a criança que se perde dentro do jogo, ou como o ator que mergulha totalmente em seu papel. Tratando-se da divisão sonambúlica da personalidade, a diferença não é fondamental, mas só de grau, e se baseia apenas na intensidade da autossugestionabilidade primária ou desagregação dos elementos psíquicos. Quanto mais se dissociar a consciência, maior se tornará a plasticidade das situações oníricas e menor se tornará também a par-cela da mentira consciente e da consciência em geral.”
JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013. Pag 80-81.
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