O Despertar do Eu

“Como manifestação preliminar dos poderes que estão entrando em jogo, o sapo, que surgiu como por milagre, pode ser considerado o “arauto”; a crise do seu aparecimento é o “chamado da aventura”. A mensagem do arauto pode ser viver, como ocorre no exemplo em questão, ou, num momento posterior da biografia, morrer. Ele pode anunciar o chamado para algum grande empreendimento histórico, assim como pode marcar a alvorada da iluminação religiosa. Conforme o entende o místico, ele marca aquilo a que se deu o nome de “o despertar do eu”.

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 60.

Lição de Vida Renovada

“O herói morreu como homem moderno; mas, como homem eterno aperfeiçoado, não específico e universal-, renasceu. Sua segunda e solene tarefa e façanha é, por conseguinte (como o declara Toynbee e como o indicam todas as mitologias da humanidade), retornar ao nosso meio, transfigurado, e ensinar a lição de vida renovada que aprendeu.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 28.

Imagens Arquetípicas

“Numa palavra: a primeira tarefa do herói consiste em retirar-se da cena mundana dos efeitos secundários e iniciar uma jornada pelas regiões causais da psique, onde residem efetivamente as dificuldades, para torná-las claras, erradicá-las em favor de si mesmo (isto é, combater os demônios infantis de sua cultura local) e penetrar no domínio da experiência e da assimilação, diretas e sem distorções, daquilo que C. G. Jung denominou “imagens arquetípicas”. Esse é o processo conhecido na filosofia hindu e budista com viveka, “discriminação” [entre o verdadeiro e o falso].

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 27.

Verdades Básicas

“O segundo passo será, portanto, reunir uma ampla gama de mitos e contos folclóricos de todos os cantos do mundo, deixando que os símbolos falem por si mesmos. Os paralelos serão percebidos de imediato e desenvolverão uma ampla e impressionantemente constante afirmação das verdades básicas que têm servido de parâmetros para o homem, ao longo dos milênios de sua vida no planeta.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 12.

O Que Somos?

“A imagem do homem que se acha no interior não deve ser confundida com as vestes que o envolvem. Pensamos em nós mesmos como americanos, filhos do século XX, ocidentais, cristãos civilizados. Somos virtuosos ou pecadores. No entanto, essas designações não nos dizem o que é ser um homem; servem tão-somente para denotar os acidentes da geografia, da data de nascimento e da renda. Qual é o nosso núcleo? Qual o caráter básico do nosso ser?”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 370.

Ciclos

“As lendas do Redentor descrevem o período de desolação como produto de uma falha moral por parte do homem (Adão no paraíso, Jemshid no trono). Não obstante, do ponto de vista do ciclo cosmogônico, uma alternância regular entre a conduta reta e a conduta errônea é característica do espetáculo do tempo. Tal como na história do universo, assim também na história das nações: a emanação leva à dissolução, a juventude à velhice, o nascimento à morte, a vitalidade criadora da forma ao peso morto da inércia. A vida se manifesta precipitando formas, e depois fenece, deixando refugos atrás de si. A idade de ouro, reino do imperador humano, se alterna no pulsar de cada momento da vida, com a terra arrasada, reino do tirano. O Deus criador torna-se, no final, destruidor.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, p. 336.

A Força do Propósito

“Diante de um homem que não se deixa desviar por sentimentos provocados pelas superfícies daquilo que vê, mas responde corajosamente à dinâmica de sua própria natureza – um homem que, como descreve Nietzsche, é “uma roda que gira por si mesma” – , as dificuldades se dissolvem e a estrada é imprevisível vai sendo formada a medida que ele caminha.”

Campbell, Joseph. O herói de mil faces. Pensamento, São Paulo, 2007, pp. 330-331.