Algumas dicas para praticar imaginação ativa

“É preciso criar um espaço mental silencioso e disponível para a imaginação. Como já indiquei, imaginação ativa não se trata de ter um devaneio ou de simplesmente cair dentro de uma fantasia que aparece na consciência. A imaginação ativa é um empreendimento deliberado, e é necessário que o indivíduo em questão se prepare para isso. Comece reservando 30 minutos em um local físico livre de distrações externas: nada de chamadas telefônicas, mensagens, conversas.

Dica nº 1: Deixe acontecer! (Geschehenlassen, Wu Wei)

A primeira regra é simples: Deixe acontecer. Em alemão, a palavra para descrever esse tipo de atividade é o verbo, geschenlassen. (…) É um tipo de passividade ativa: ativa no sentido de que é uma escolha feita pelo sujeito acordado (o ego), passiva por significar “não fazer nada, esperar.” Essa é a primeira instrução que Jung recebeu de sua alma. Ela sussurrou para ele, “Aguarde.” É uma instrução simples, no entanto pode ser agonizante segui- la: “Eu escutei a cruel palavra. A tormenta pertence ao deserto,” [16] Jung descreve em Liber Novus.

Primeiramente, é necessário ter paciência e esperar por um período considerável até que algo comece a acontecer em sua imaginação. Não é fácil esvaziar a mente agitada dos pensamentos que nos preocupam. Requer disciplina. Pensamentos indesejados continuam surgindo, e é um desafio deixá-los passar. A ideia é criar uma tela em branco na mente, onde não estamos pensando em nada, vendo nada, sentindo nada – é simplesmente um espaço vazio. Em algumas práticas meditativas, isso é considerado o objetivo final. Para a imaginação ativa, é o começo – um pré-requisito.

Quando complexos, preocupações ou pensamentos surgirem, basta deixá-los ir embora e abrir espaço. Isso é o que vemos Carl Jung fazer no início do Liber Novus. Simplesmente espere pacientemente que algo apareça, sem forçar ou tentar invocar uma imagem. Esse é o começo de uma sessão de imaginação ativa.

Dica nº 2: Receba o Que Vier

Isso nos leva à segunda regra. A primeira regra é liberar-se e se abrir; e a segunda regra fala sobre “receber o que vier”.

Todos nós possuímos um editor interno, um juiz que retrata o que é nobre, o que é básico, o que é digno, assim como o que é indigno. É necessário deixar esse editor de lado e simplesmente receber o que vier – aquela primeira coisa que se revela dentro da imaginação.

Na meditação guiada, você pode começar com uma cena específica de um contexto ou meditar sobre uma figura divina específica. Há instruções para cada um desses exemplos. A imaginação ativa não funciona dessa maneira. Depois de criar um ambiente confortável e limpar a mente de pensamentos intrusivos, quando algo surgir em seu espaço imaginativo, a sugestão é não julgar. Apenas receba, aceite e permaneça com isso.

Dica nº 3: Caso se Mova, siga

Isso introduz a terceira regra da imaginação ativa: caso algo se mova, siga e permaneça com esse movimento na imaginação. Essa regra nos leva não apenas à aceitação do que aparece, mas também ao envolvimento ativo do ego com as figuras autônomas que surgem na imaginação, figuras que demonstram ter vida e vontade próprias. Nessa fase da imaginação ativa, é importante que o ego, o “eu” na história, mantenha suas atitudes e sentimentos assim como lhe são característicos. Os indivíduos precisam entrar na história que está se desenrolando com plena consciência de quem são e agir como se o diálogo e a cena estivessem realmente acontecendo diante deles. Essa é a diferença entre a imaginação ativa e uma fantasia passiva.

Essas são as regras fundamentais da imaginação ativa: esvaziar a mente e estar aberto ao que vier; aceitar e se envolver com o que se apresentar; seguir os movimentos e fluxos que surgirem na imaginação; e, por fim, interagir genuinamente com o conteúdo que se manifesta. Ao seguir essas regras básicas, é possível obter sucesso na prática da imaginação ativa.

Se você está interessado em experimentar a imaginação ativa, siga estas orientações. Reserve cerca de 20 a 30 minutos todos os dias durante uma semana para iniciar o processo de imaginação ativa. Use um temporizador e, após aproximadamente 20 minutos de prática, faça anotações em um diário sobre o que aconteceu. No dia seguinte, retome a partir do ponto onde parou no dia anterior e continue a partir dali. Ao fazer isso regularmente por um mês, você começará a construir um mundo interior estável que poderá explorar e, portanto, desfrutar dos benefícios da imaginação ativa pelo resto de sua vida. No entanto, vale ressaltar que isso requer determinação e paciência vindas de você. Todos possuem a capacidade dentro de sua psique de exercitarem esta poderosa função e utilizá-la de forma ativa, dando abertura para uma experiência do mundo interior e uma conexão com o inconsciente.

A imaginação ativa é uma experiência que envolve imagens, narrativas e emoções. É provável que você se torne bastante emotivo ao utilizar esse método. Portanto, é sensato estabelecer um limite de tempo, como 20 ou 30 minutos por dia. Não se envolva excessivamente e sempre mantenha o controle consciente sobre essa atividade imaginativa na qual você está se envolvendo.

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Algumas dicas para praticar imaginação ativa

Pontos de partida para a imaginação ativa

“A imaginação ativa pode ser iniciada de várias maneiras. Uma delas é por meio de um sonho. Se um sonho não estiver completamente resolvido ao acordar, se houver algo no sonho que a pessoa queira explorar mais ou se houver uma figura onírica com a qual queira se envolver mais, a imaginação ativa pode ser utilizada para dar continuidade ao sonho.

Outro modo de despertar a imaginação ativa é através de um estado de humor ou sentimento. Por exemplo, se você fosse criar um filme que representasse esse sentimento, sobre o que seria e qual papel você desempenharia nele? Ao começar com um sentimento ou humor específico, você pode imaginar-se sozinho à beira de um lago e então alguém se aproximando de você – você pode então iniciar um diálogo com essa pessoa.

Essas são apenas algumas das maneiras de iniciar a prática da imaginação ativa. A chave é estar aberto para explorar as imagens e os diálogos que surgem, permitindo que a imaginação assuma seu curso natural e revelando assim insights e significados profundos.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Pontos de partida para a imaginação ativa

Tipos de imaginação ativa

“As instruções que se encontram abaixo podem ser tidas como clássicas: você cria um espaço acessível em sua mente, espera pelo que quer que venha, caso algo se mova, siga isto. Esses passos continuam assim por diante. Essa é a forma clássica da imaginação ativa, desenvolvida por Jung. Depois dela, há a modalidade que Kristine Mann utilizava: desenho e pintura. Vale dizer que outras pessoas empregam a modelagem de argila ou a escultura. Há ainda, a imaginação ativa pelo movimento, onde o corpo lidera o sentido na imaginação ativa. Isto é praticado por alguns analistas junguianos e é denominado como “movimento autêntico”. E é claro, temos também o sandplay, que é praticado por muitos terapeutas ao redor do mundo. Para essa expressão, coloca-se objetos em miniatura dentro de uma bandeja de areia e cria-se uma cena da qual uma narrativa emerge.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Tipos de imaginação ativa

Precauções para a Imaginação ativa

“Uma regra importante na aplicação da imaginação ativa é evitar o uso de pessoas conhecidas enquanto personagens deste tipo de prática. Em outras palavras, não é aconselhável realizar a imaginação ativa com alguém que se conhece, como um amigo, colega ou ente querido. Isso pode ter efeitos imprevistos. Utilizar a imaginação ativa dessa maneira seria um uso indevido, tentando influenciar outras pessoas por meio de uma “intervenção mágica desconhecida por elas. Essa prática viola os limites éticos e comportamentais em relação aos outros. Se por acaso uma pessoa conhecida surgir durante o exercício da imaginação ativa, é recomendável encontrar uma figura substituta para ela, que sirva como um representante de uma figura interior que se assemelhe a esta. Por exemplo, se o sr. Z, que acredito ser desagradável, aparecer em minha imaginação ativa, reconheço sua presença e procuro encontrar um personagem imaginário semelhante que represente aquelas mesmas qualidades sombrias. Dessa maneira, posso prosseguir e dialogar com essa representação.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Precauções

Imaginação ativa dentro da psicanálise Junguiana

“Seus pacientes, em geral, eram pessoas mais maduras, muitas já se encontravam na segunda metade da vida. Ao adotar esse tipo de abordagem, Jung pressupôs que você já tivesse realizado o trabalho necessitado à primeira metade da vida: construção de uma persona, desenvolvimento de uma vida independente e o fortalecimento egoico. Ele presumiria que você já galgou essas etapas.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Imaginação ativa dentro da psicanálise Junguiana

A descoberta da Imaginação ativa de Jung

“(…) Frank Miller, uma americana que estava viajando pela Europa por um certo período de tempo. Jung se interessou por esse material, que ele havia encontrado publicado em uma revista suíça. Depois desse encontro ele realizou uma grande quantidade de pesquisas sobre o fundo psicológico dessas fantasias. Basicamente, ele ampliou as imagens da srta. Miller empregando mitologias de muitas diferentes tradições e partes do mundo. Jung também estudou um amplo espectro de literatura para conseguir amplificar os significados mais profundos dessas fantasias passivas que Frank Miller produziu em seu diário.

(…) naquele momento de sua vida (ele tinha entre 37-38 anos), se sentia desorientado e não sabia qual direção tomar em sua vida e em sua carreira profissional. Jung sabia que o pensamento dirigido e procurar descobrir algo de forma racional não seria de grande ajuda. Visto isso, Carl Jung decidiu tentar realizar um experimento e fazer o que a srta. Miller havia feito, ou seja, em larga medida brincar, e se deixar envolver com o pensamento fantástico. Como seria conseguir pensar e ao mesmo tempo não se apropriar da função do pensamento dirigido (que tem uma natureza egoica), para ser capaz de resolver um problema de uma maneira que não seja racional? Essa foi sua primeira pergunta. Este experimento tornou-se uma grande virada de chave que Jung não havia antecipado. Ele descobriu a imaginação ativa como um agente de transformação. Ele havia se preparado para descobrir por conta própria o que de fato significava pensar com o uso da imaginação, e deste modo acabou por se descobrir.

A imaginação ativa é uma experiência, e o conhecimento que é adquirido através da utilização deste método é o que pode ser chamado de Gnose.

A surpresa é uma característica muito importante da imaginação ativa algo acontece que o sujeito não esperava. O ego não está no comando, e as imagens inconscientes demonstram autonomia.

(…)

Uma semana após sua visita à caverna, Jung se deparou com uma cena extraordinária: duas figuras misteriosas apareceram diante dele. Uma, umancião que se assemelha à um dos antigos profetas, já a outra, uma bela jovem cega. Ambas estão acompanhadas por uma serpente negra. Esse encontro marca o início de uma fascinante narrativa que se desenvolve ao longo das subsequentes conversas e interações. O ancião se apresenta como Elias e a jovem como Salomé. Jung fica perplexo com essa revelação e se entrega a uma série de cinco sessões de imaginação ativa, ocorridas entre os dias 21 e 25 de dezembro de 1913.

Durante essas sessões, Jung descobre que tanto Elias quanto Salomé habitam a Terra dos Mortos, o mesmo território do qual a jovem em seu sonho anterior parecia pertencer. Esse território é o que Jung mais tarde chamaria de “o inconsciente” em seus escritos teóricos sobre a psicologia. É a fonte de onde os mitos emergem. Fascinado com essa descoberta, Jung se entrega à exploração de seu próprio mito pessoal, continuando a desvendar os mistérios do inconsciente.

Salomé e Elias são figuras simbólicas que representam aspectos arquetípicos presentes na psique coletiva. Embora sejam personagens bíblicos e tenham existido no passado histórico, no contexto da imaginação ativa de Jung, eles são vivos e ativos na Terra dos Mortos, em um reino simbólico do inconsciente. A descoberta de Jung é que o passado cultural e histórico ainda está presente e influencia a psique humana, tornando-se parte do inconsciente coletivo.

(…)

Nesse artigo, ele descreveu a prática da imaginação ativa e destacou seu papel na construção de uma ponte entre a consciência do ego e o inconsciente. “A Função Transcendente” se refere à capacidade de elevar-se acima do abismo que separa esses dois aspectos da psique. Através da função transcendente, a mente consciente é capaz de ir além dos limites do pensamento racional dirigido e estabelecer uma conexão com uma esfera mais profunda da psique, proporcionando um conhecimento intuitivo, ou “gnóstico”. Jung reconheceu que o pensamento dirigido não era capaz de estabelecer essa conexão entre o ego e o inconsciente. Embora a análise psicológica possa estudar os efeitos do inconsciente na consciência, a imaginação ativa permite uma exploração mais profunda, expandindo os limites da consciência e conduzindo o indivíduo ao que Henry Corbin chamou de Mundus Imaginalis – uma dimensão inspiradora e expansiva da imaginação ativa.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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A descoberta da Imaginação ativa de Jung

Imaginação ativa como agente de transformação

“A imaginação ativa é uma forma de engajar-se consigo e requer, portanto, a introversão intencional da energia psíquica. Na imaginação ativa, a direção da atenção do sujeito, seu foco, pensamentos e sentimentos se volta ao seu interior, para imagens que possam aparecer. A extroversão direciona a atenção de uma pessoa para o mundo ao seu redor, já a introversão, para o mundo interior.

Se você for a um concerto, por exemplo, e escutar atentamente a música com toda sua atenção, o que você está percebendo na verdade são as vibrações no ar que estão entrando em seus ouvidos e sendo traduzidas em ondas cerebrais. Sua atenção está concentrada nos sons que estão vindo até você do lado de fora. Às vezes, no entanto, quando está ouvindo música, você pode começar a enxergar imagens por meio de imagens mentais, no seu mundo interior, ou talvez veja determinadas cores ou algumas formas em movimento. Isso se chama sinestesia. Ou, ainda, você pode começar a acessar imagens mentais de uma paisagem ou de pessoas que conhece. Se começar a prestar atenção ao que está acontecendo em sua mente, você está gerando uma mudança da extroversão para a introversão. A extroversão é escutar os sons, e a introversão é perceber como estes sons o afetam. No seu mundo interior, a música está a criar emoções, imagens ou pensamentos.

Em algumas correntes filosóficas, argumenta-se que nossa experiência do mundo exterior é puramente uma construção mental, e que só temos acesso direto ao nosso mundo interior. Na psicologia, entretanto, geralmente aceitamos que nossos sentidos e funções mentais nos fornecem uma impressão, embora talvez não totalmente precisa, de um mundo externo. Reconhecemos a distinção entre o mundo interior e o mundo exterior, embora também reconheçamos que esses dois estão interconectados e influenciam um ao outro. A projeção é um fenômeno psicológico que ocorre quando atribuímos nossos conteúdos internos a objetos ou pessoas externas. A imaginação ativa é um método deliberado de direcionar nossa atenção para dentro, a fim de nos envolvermos com a subjetividade mais profunda da psique, enquanto ainda permanecemos em um estado de vigília. É um processo semelhante à meditação, em que nos permitimos explorar conscientemente as imagens, emoções e narrativas que emergem em nossa mente. ”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Imaginação ativa como agente de transformação

A série de sonhos em análise

“o analista normalmente incentivará o cliente a manter um caderno ou diário dos sonhos à medida que a análise avança.

Pode-se pensar no sonho inicial como um presente para o analista – ele está dizendo: “Aqui se encontra o material de nosso trabalho enquanto nos aprofundamos em sua psique”. Sonhos que seguem o sonho inicial semana após semana, mês a mês e ao longo de toda a análise, formam o conteúdo constituinte da série de sonhos.

Jung apresentou uma segunda e, poderíamos dizer, teoria suplementar sobre o inconsciente. A primeira teoria era que o inconsciente compensa a consciência, e em especial a unilateralidade da consciência. A segunda teoria é que o inconsciente tem uma meta, que ele chamou de “prospectiva”. O inconsciente tem um direcionamento que visa o desenvolvimento da personalidade. Este é o instinto da individuação. Os sonhos facilitam esse processo. Os atos singulares de compensação estão a serviço do telos da psique, em suma, da plena realização do potencial.”

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A série de sonhos em análise

Tipo psicológico

“Jung escreve:

Muitas vezes acontece que o paciente está bastante satisfeito em simplesmente registrar um sonho ou uma fantasia, especialmente se ele tem uma inclinação estética. Nesse caso, ele pode resistir a uma assimilação intelectual, pois isso parece ser uma afronta à realidade de sua vida psíquica. Por outro lado, existem aqueles que tentam compreender apenas com seus cérebros e desejam pular a etapa prática. Quando eles acreditam ter compreendido, pensam que já preencheram completamente sua cota de execução.

Trata-se de pensar com o coração, em vez da cabeça, como bem expressou Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece. […] Sabemos a verdade não apenas pela razão, mas pelo coração”. Jung escreve:

Para muitas pessoas, a ideia de ter uma relação sentimental com os conteúdos do inconsciente pode parecer estranha ou até mesmo ridícula. No entanto, o sentimento está intrinsecamente ligado à realidade e ao significado dos conteúdos simbólicos, e esses conteúdos impõem padrões éticos vinculativos aos quais o esteticismo e o intelectualismo tendem a se distanciar. Os alquimistas acreditavam que o opus, ou trabalho alquímico, exigia não apenas atividades laboratoriais, estudo de livros, meditações e paciência, mas também o elemento do amor. Hoje em dia, chamaríamos de “valores sentimentais” e a conquista por meio do sentir.

(…)

Jung escreve:

A conquista do sentimento também não forma o estágio final. […] O quarto estágio é a antecipação do lapis philosophorum. A atividade imaginativa da quarta função – a intuição, sem a qual nenhum desenvolvimento se completa – claramente é evidenciada nesta antecipação de uma possibilidade cuja realização nunca poderia ser objeto da experiência empírica. […] A intuição oferece perspectiva e insight; ela se expõem no jardim de possibilidades mágicas como se estas fossem concretas. […] Esta pedra angular complementa o trabalho em uma experiência da totalidade do indivíduo.

Jung utiliza a frase “atividade imaginativa” para trabalhar com a função intuitiva. A imaginação ativa é empregada no sonho para carregá-lo até um espaço onde se possa considerar sua trajetória para o futuro desconhecido. Como é que esse sonho poderia se aplicar a várias situações da vida que são passíveis de experiência futura? A imaginação expande e amplia a gama de possíveis significados que o sonho pode ter para a vida do sonhador. Jung também emprega a frase “o jardim das possibilidades mágicas” como o lugar para o qual a intuição pode nos levar.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Tipo psicológico

Interpretações objetivas e subjetivas

“A interpretação objetiva se refere ao significado das relações reais no mundo ao nosso redor, enquanto a interpretação subjetiva se refere ao significado do mundo interior da psique. A compensação do sonho pode ser uma resposta à unilateralidade nas relações com outras pessoas no nível objetivo ou uma resposta à unilateralidade interna no nível subjetivo. É importante destacar que essas duas dimensões estão intimamente relacionadas e entrelaçadas, mas, para fins analíticos, muitas vezes fazemos uma distinção.

No nível objetivo, o sonho pode estar sugerindo uma compensação para ajudar no ajuste da atitude consciente e nas interações comportamentais com os outros, indicando a possibilidade de uma resposta mais equilibrada e com menos projeção.(…) É comum pensar que as pessoas familiares que aparecem nos sonhos são representações precisas delas mesmas, mas, na realidade, não o são. A figura dos sonhos não é a pessoa objetivamente real, mas, sim, uma representação do sonhador sobre essa pessoa. O que a figura do sonho faz ou diz não pode ser atribuído ao sujeito real. O sonho revela o relacionamento que o sonhador tem com essa figura em particular.

Se o sonho for interpretado de forma subjetiva, todas as partes que o compõem, incluindo as figuras e o cenário do sonho, servem como uma imagem do mundo interior do sonhador, com algumas referências ao mundo exterior, mas funcionando principalmente como metáfora ou símbolo de uma realidade psíquica interna.

No nível subjetivo, os sonhos são considerados simbólicos. Um símbolo é uma representação de um conteúdo ou processo inconsciente e não se refere a algo já conhecido. Nesse sentido, é diferente de um sinal, que se refere a um objeto ou ideia específica e objetiva já conhecida. Em geral, Jung e os psicanalistas junguianos que seguiram sua linha de pensamento estão mais interessados na interpretação simbólica dos sonhos do que no campo objetivo.”

STEIN, Murray. Os quatro pilares da psicanálise junguiana: Individuação – Relacionamento analítico – Sonhos – Imaginação ativa – Uma introdução concisa. Ed. Cultrix, 2023.

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Interpretações objetivas e subjetivas