BYUNG-CHUL HAN

“BYUNG-CHUL HAN nasceu na Coreia, mas fixou-se na Alemanha, onde estudou Filosofia na Universidade de Friburgo e Literatura Alemã e Teologia na Universidade de Munique. Em 1994, doutorou-se em Friburgo com uma tese sobre Martin Heidegger. É professor de Filosofia e Estudos Culturais na Universidade de Berlim e autor de inúmeros livros sobre a sociedade atual publicados pela Editora Vozes.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 979.

 

Estado totalitário

No estado totalitário, construído na base de uma mentira total, dizer a verdade é um ato revolucionário. A coragem de verdade distingue os parresiastas. Na sociedade pós-factual da informação, por sua vez, o pathos da verdade não leva a absolutamente nada. Perde-se em ruído da informação. A verdade decai em poeira de informação levada pelo vento digital.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 932.

A crise da verdade

Aprisionados em uma caverna digital

“Estamos, hoje, aprisionados em uma caverna digital supondo estarmos em liberdade. Estamos agrilhoados na tela digital. Os prisioneiros da caverna platônica estão inebriados pelas imagens mítico-narrativas. A caverna digital, por sua vez, nos mantém aprisionados em informações. A luz da verdade está completamente extinta. Não há mais fora da caverna informacional. Um forte ruído de informação faz desaparecer os contornos do ser. A verdade não gera ruído.

A verdade tem uma temporalidade completamente diferente da informação. Enquanto a informação tem um lapso muito estreito de atualidade, a verdade se distingue pela duração. Desse modo, ela estabiliza a vida.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 921-925.

A crise da verdade

Filosofia é dizer a verdade

“Filosofia é dizer a verdade. Os filósofos têm que, segundo Foucault, implacavelmente se ocupar com o “hoje”. Praticam a parrhesia em relação àquilo que acontece hoje.

A preocupação com o hoje como preocupação com a verdade vale, ao fim e ao cabo, para o futuro: “eu penso que nós [filósofos] somos aqueles que fazem o futuro. O futuro é o modo como reagimos ao que acontece, é o modo como transportamos um movimento, uma dúvida, à verdade”74. À filosofia de hoje falta totalmente a relação com a verdade. Ela vem se afastando do hoje. Também não tem, assim, futuro.

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 910-912.

A crise da verdade

Verdadeira democracia

A “verdadeira democracia” (Foucault faz referência ao historiador grego Políbio) é guiada por dois princípios, o da isegoria e o da parrhesia. A isegoria diz respeito ao direito concedido a todo cidadão de se expressar livremente. A parrhesia, o dizer a verdade, pressupõe e exige a isegoria, mas excede o direito constitucional de tomar a palavra. Ela proporciona a determinados indivíduos “dizer o que pensam, o que assumem como verdadeiro, o que realmente assumem como verdadeiro”.

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 873.

A crise da verdade

Caldo de cultivo para teorias da conspiração

“Na crise pandêmica, números puros como os “números de casos” ou a “incidência” aumentam a insegurança fundamental, pois não esclarecem nada. A simples contagem de números desperta uma necessidade por contos, por narrativas. É por isso que a crise pandêmica é um caldo de cultivo para teorias da conspiração.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 867.

A crise da verdade

Vazio do sentido

“Hoje, não nos encontramos apenas em uma crise econômica ou pandêmica, mas também em uma crise narrativa. Narrativas promovem sentido e identidade. Desse modo, a crise narrativa leva ao vazio do sentido, à crise de identidade e à falta de orientação.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 859.

A crise da verdade

Fotografia digital

“A produtibilidade total é também a essência da fotografia digital. A fotografia analógica dá fé ao observador do ser do que há. Certifica a facticidade do “foi-assim”61. Ela nos mostra o que há de fato. Foi-assim ou isso-existe-também é a verdade da fotografia. A fotografia digital destrói a facticidade como verdade. Ela produz uma realidade que não existe ao eliminar a realidade como referente.

Não se explica o mundo só com um monte de informações. Após certa quantidade, elas até mesmo ofuscam o mundo. Ao nos depararmos com uma informação, temos sempre a suspeita de que a informação poderia ser outra. Ela vem acompanhada de uma desconfiança fundamental. Quanto mais informações diferentes são confrontadas, mais forte fica essa desconfiança. Na sociedade da informação, perdemos a confiança fundamental. É uma sociedade da desconfiança.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 820-825.

A crise da verdade

A crise da verdade

“A crise da verdade estremece a crença nos próprios fatos. Opiniões podem divergir fortemente umas das outras. Mas são legítimas, enquanto “respeitarem a integridade dos estados de fato aos quais remetem”. A liberdade de opinião se degrada, ao contrário, em farsa, caso perca a referência aos estados de fato e às verdades factuais.

Em 2005, o New York Times elegeu o neologismo truthiness como uma das palavras que capturam o Zeitgeist. A truthiness, algo como a “veridade”, reflete a crise da verdade. Faz referência à verdade sentida que carece de toda objetividade, de toda solidez dos fatos.”

HAN, Byung-Chul. Infocracia: Digitalização e a crise da democracia. Ed. Vozes, 2022, Local 755-759.

A crise da verdade