“Há, ainda, certos acontecimentos de que não tomamos consciência. Permanecem, por assim dizer, abaixo do seu limiar. Aconteceram, mas foram absorvidos subliminarmente, sem nosso conhecimento consciente. (…) Geralmente, o aspecto inconsciente de um acontecimento nos é revelado por meio de sonhos, onde se manifesta não como um pensamento racional, mas como uma imagem simbólica.
O homem desenvolveu vagarosa e laboriosamente a sua consciência, num processo que levou um tempo infindável, até alcançar o estado civilizado (arbitrariamente datado de quando se inventou a escrita, mais ou menos no ano 4000 a.C.). Esta evolução está longe da conclusão, pois grandes áreas da mente humana ainda estão mergulhadas em trevas. O que chamamos psique não pode, de modo algum, ser identificado com a nossa consciência e o seu conteúdo.
Os que fazem este tipo de declaração estão expressando um velho misoneísmo medo do que é novo e desconhecido.
É a isso que o ilustre etnólogo francês Lucien Lévy-Bruhl denominou de “participação mística”. Mais tarde, sob pressão de críticas desfavoráveis, renegou esta expressão mas julgou que seus adversários é que estavam errados. É um fenômeno psicológico bem conhecido aquele de um indivíduo identificar-se, inconscientemente, com alguma outra pessoa ou objeto.
“Dissociação” é um fracionamento da psique que provoca uma neurose. Encontramos um famoso exemplo deste es ado na ficção, no romance O médico e o monstro (1886) de R.L. Stevenson. No livro, a “dissociação” de Jekyll se manifesta por meio de uma transformação física e não (como na realidade) sob a forma de um estado interior psíquico.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 22-23.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung