“(…) há também indícios que mostram que uma parte da psique, pelo menos, escapa às leis do espaço e do tempo. A prova científica foi estabelecida pelas experiências bastante conhecidas de Rhine. Ao lado de inumeráveis casos de premonições espontâneas, de percepções não espaciais e outros fatos análogos, dos quais busquei exemplos em minha vida, essas experiências provam que, por vezes, a psique extrapola a lei da causalidade espaçotemporal. Disso resulta que as representações que temos do espaço, do tempo e também da causalidade são incompletas. Uma imagem total reclama, por assim dizer, uma nova dimensão; só então poderia ser possível dar uma explicação homogênea à totalidade dos fenômenos. (…) por esse motivo que ainda hoje os racionalistas persistem em pensar que as experiências parapsicológicas não existem; pois seriam fatais à sua visão do mundo. Porque se tais fenômenos podem produzir-se, a imagem racionalista do universo perde o seu valor por ser incompleta. Então a possibilidade de outra realidade, atrás das aparências, com outras referências, torna-se um problema intransponível e ficamos constrangidos em abrir os olhos para o fato de que nosso mundo de tempo, espaço e causalidade está relacionado com uma outra ordem de coisas, atrás ou sob ele, ordem na qual “aqui” e “ali”, “antes” e “depois” não são essenciais.”
JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 5476-5481.
Sobre a vida depois da morte