Experiência de Ravena

“Até hoje conservo a mais nítida lembrança do mosaico representando São Pedro afundando nas ondas; cada detalhe se apresenta diante de meus olhos: o azul do mar, as pedras do mosaico e as palavras saindo da boca de Cristo e de São Pedro que eu tentava decifrar. Ao sair do batistério fui logo comprar em Alinari as reproduções dos mosaicos; foi impossível encontrá-las. Como não tivesse muito tempo — tratava-se de uma visita rápida —, adiei essa compra, pretendendo encomendá-las de Zurique.

Na volta pedi a um conhecido que estava embarcando para Ravena que procurasse as gravuras. Mas ele não conseguiu encontrá-las, pois constatou que os mosaicos absolutamente não existiam!

Enquanto isso eu falei num seminário sobre a concepção primeira do batismo como iniciação e mencionei os mosaicos do batistério dos ortodoxos. Tenho ainda gravadas na memória todas as figuras desses mosaicos. A amiga que me acompanhou recusou-se por muito tempo a acreditar que aquilo que vira “com seus próprios olhos” não existia.

É conhecida a dificuldade que há em determinar em que medida duas pessoas veem no mesmo momento a mesma coisa. Nesse caso, entretanto, pude averiguar suficientemente que ambos vimos basicamente a mesma coisa. Esta experiência de Ravena é uma das ocorrências mais singulares da minha vida. Impossível explicá-la.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 5189.

Viagens | Ravena e Roma

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