“(…) Como assinalei anteriormente, o processo de individuação exclui qualquer imitação, do tipo “papagaio”. Inúmeras vezes e em todas as terras, as pessoas tentaram copiar, pelo comportamento exterior ou ritualístico, a experiência religiosa original de seus grandes mestres Cristo, Buda, ou algum outro líder e tornaram-se. assim, “petrificados”. Acompanhar os passos de um grande líder espiritual não significa que se deva copiar exatamente o seu processo de individuação e sim que se tente, com a mesma sinceridade e devoção desses mestres, viver a própria vida.
O barbeiro com o espelho que desaparece simboliza o dom da reflexão de que Hâtim se priva justamente quando mais necessita dele; as águas montantes representam o risco de mergulharmos na inconsciência e de nos perdermos em nossas emoções. Para entendermos as indicações simbólicas do inconsciente devemos cuidar para não sairmos de nós mesmos (o “ficar fora de si”), mas sim de permanecermos emocionalmente dentro de nós mesmos. Na verdade, é de importância vital que o ego continue a funcionar de maneira normal. Só mantendo-me um ser humano normal, consciente do quanto sou imperfeito, é que posso me tornar receptivo aos conteúdos e processos significativos do inconsciente. Mas como pode o ser humano resistir à tensão de sentir-se em união total com o universo inteiro, sendo, ao mesmo tempo, nada mais que uma miserável criatura humana? Se por um lado eu me desprezo considerando-me uma simples cifra estatística, minha vida não terá significação alguma e não valerá a pena vivê-la. Mas se, ao contrário, sinto-me parte de alguma coisa muito mais vasta, como conservar meus pés em terra? É, na verdade, muito difícil unir no nosso intimo esses dois extremos e permanecer em equilíbrio entre eles.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 289-290.
III O processo de individuação
M.-L. Von Franz