“Havia, por exemplo, uma senhora conhecida por seus insuportáveis preconceitos e por sua obstinada resistência a qualquer argumento racional. Podia-se discutir com ela uma noite inteira; não tomaria o menor conhecimento das nossas opiniões. Seus inteiramente diferente. Uma sonhou que estava numa importante reunião social, onde foi recebida pela anfitriã com as seguintes palavras: “Que bom você ter podido vir. Todos os seus amigos estão aqui à sua espera.” E levou-a até uma porta, que abriu, introduzindo-a num estábulo.
A linguagem desse sonho é simples o bastante para que até um ignorante a entenda. A mulher, a princípio, recusou-se a admitir o sentido de um sonho que vinha atingir tão diretamente o seu amor-próprio. Mas acabou compreendendo a mensagem que lhe era enviada, e após algum tempo aceitou a pilhéria que se autoinfligira.
Quanto mais a consciência for influenciada por preconceitos, erros, fantasias e anseios infantis, mais se dilata a fenda já existente, até chegar-se a uma dissociação neurótica e a uma vida mais ou menos artificial, em tudo distanciada dos instintos normais, da natureza e da verdade.
A função geral dos sonhos é tentar restabelecer a nossa balança psicológica, produzindo um material onírico que reconstitui, de maneira sutil, o equilíbrio psíquico total. É o que chamo função complementar (ou compensatória) dos sonhos na nossa constituição psíquica.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 56.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung