Mente e Matéria

“(…) Jung propõe que os arquétipos também servem como ligações diretas entre a psique e o mundo físico: “Somente uma explicação adquirida dos fenômenos psíquicos, com um mínimo grau de clareza, nos obriga a admitir que os arquétipos devem ter um aspecto não-psíquico. As razões para essa conclusão se encontram nos fenômenos de sincronicidade que acompanham a atividade de fatores inconscientes e que até hoje têm sido considerados ou rejeitados como ‘telepatia’, etc.”[203] Jung é geralmente cauteloso a respeito de atribuir causalidade aos arquétipos em conexão com fenômenos sincronísticos (caso contrário, estaria recorrendo a um modelo de causalidade em que os arquétipos seriam as causas de eventos sincronísticos), mas, nesta passagem, ele parece ligá-los a “operadores” que organizam sincronicidade.

A sincronicidade é definida como uma coincidência significativa entre eventos psíquicos e físicos. Um sonho de um avião despencando das alturas reflete-se na manhã seguinte numa notícia dada pelo rádio.

Não existe qualquer conexão causal conhecida entre o sonho e a queda do avião. Jung postula que tais coincidências apoiam-se em organizadores que geram, por um lado, ‘imagens psíquicas e, por outro, eventos físicos. As duas coisas ocorrem aproximadamente ao mesmo tempo, e a ligação entre elas não é causal. Antecipando-se aos seus críticos, Jung escreve: “O ceticismo deveria ter por objeto unicamente as teorias incorretas, e não assestar suas baterias contra fatos comprovadamente certos. Só um observador preconceituoso seria capaz de negá-lo. A resistência contra o reconhecimento de tais fatos provém principalmente da repugnância que as pessoas sentem em admitir uma suposta capacidade sobrenatural inerente à psique. Os aspectos muito diversos e confusos de tais fenômenos podem muito bem ser explicados, até onde me é possível constatá-lo no presente, se admitirmos um contínuo espaço-tempo psiquicamente relativo.

Assim que um conteúdo psíquico cruza o limiar da consciência, desaparecem OS fenômenos sincronísticos marginais, o tempo e o espaço retomam o seu caráter absoluto habitual e a consciência fica de novo isolada em sua subjetividade.”

Os fenômenos sincronísticos manifestam-se com muito maior frequência quando a psique está funcionando num nível menos consciente, como nos sonhos ou devaneios. Um estado de devaneio é o ideal. Assim que a pessoa se aperceba do evento sincronístico e se concentre nele, as categorias de tempo e espaço retomam sua ascendência. Jung concluiu que os sujeitos nos experimentos de Rhine devem ter reduzido sua consciência quando ficaram interessados e excitados pelo projeto. Tivessem eles tentado usar seus egos racionais para calcular probabilidades, os seus resultados PES teriam declinado, pois assim que o funcionamento cognitivo assume o controle das operações, a porta fecha-se para os fenômenos sincronísticos. Jung também sublinha que a sincronicidade parece depender em considerável medida da presença de afetividade, ou seja, sensibilidade a estímulos emocionais.”

“A definição estrita é “a ocorrência simultânea de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos externos que se apresentam como paralelos significativos do estado subjetivo momentâneo”. Por “simultânea” entende ele que um determinado evento ocorreu no âmbito de um mesmo quadro temporal, dentro de horas ou dias mas não necessariamente no mesmo momento. Há simplesmente a “coincidência no tempo” de dois acontecimentos, um psíquico e um físico.”

“Ocorre uma outra sincronicidade, conforme foi antes assinalado, quando uma pessoa está psiquicamente num abaissement du niveau mental (num nível inferior de percepção consciente, uma espécie de obnubilação da consciência) e o nível da consciência caiu no que hoje é chamado um estado alfa. Isso também significa que o tônus do inconsciente está mais elevado do que a consciência, complexos e arquétipos são mais intensamente ativados e podem forçar um recuo do limiar de consciência em face do influxo de impulsos e conteúdos instintivos inconscientes. É possível que esse material psíquico corresponda a dados objetivos fora da psique.”

Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 5216-5257.

9. Do tempo e eternidade (Mente e Matéria)

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