Muito além do gabinete de consulta

“Pois não se trata de confirmar uma teoria, mas de fazer com que o doente se compreenda a si mesmo como indivíduo. Ora, isso só é possível uma vez estabelecido o confronto com as ideias coletivas, que o médico deve conhecer. Uma simples formação médica não é suficiente, porquanto o horizonte da alma humana, vai muito além do gabinete de consulta.

A alma é muito mais complexa e inacessível do que o corpo. Poder-se-ia dizer que é essa metade do mundo não existente senão na medida em que dela se toma consciência. Assim, pois, a alma não é só um problema pessoal, mas um problema do mundo inteiro e é a esse mundo inteiro que o psiquiatra deve se referir.

(…) o perigo que nos ameaça a todos não vem da natureza, mas dos homens, da alma do indivíduo e de todos. O perigo reside na alteração psíquica do homem. Tudo depende do bom ou do mau funcionamento da nossa psique. Se hoje em dia certas pessoas perderem a cabeça, poderão explodir uma bomba de hidrogênio.

Mas o psicoterapeuta não deve contentar-se em compreender o doente; é importante que ele também se compreenda a si mesmo. Por esse motivo a condição sine qua non de sua formação é sua própria análise: a análise didática. A terapia do doente começa, por assim dizer, na pessoa do médico. Apenas conhecendo-se a si mesmo e a seus problemas, ele poderá cuidar do doente. Antes, não. Na análise didática o médico deve aprender a conhecer sua alma e a tomá-la a sério para que o doente possa fazer o mesmo.

(…)

Existe, é verdade, o que se chama de “pequena psicoterapia”, mas na análise propriamente dita é a personalidade inteira que é chamada à arena, tanto a do médico quanto a do doente. Muitos casos só podem ser curados se o médico se envolve pessoalmente.

O terapeuta deve perceber a todo instante o modo pelo qual reage em confronto com o doente. Não se reage só com o consciente; é necessário perguntar sempre: “Como meu inconsciente vive esta situação?” É preciso, pois, tentar compreender os próprios sonhos, prestar uma atenção minuciosa em si memso e observa-se tanto quanto ao doente, senão o tratamento poderá fracassar.(…)”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 2536-2557.

Atividade Psiquiátrica

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