Necessidade da expressão mítica

“O homem satisfaz à necessidade da expressão mítica quando possui uma representação que explique suficientemente o sentido da existência humana no cosmos, representação que provém da totalidade da alma, isto é, da cooperação do consciente e do inconsciente. A carência do sentido impede a plenitude da vida e significa, portanto, doença. O sentido torna muitas coisas, talvez tudo, suportável. Jamais alguma ciência substituirá o mito e jamais o mito poderá nascer de alguma ciência. Não é “Deus” que é um mito, mas o mito que é a revelação de uma vida divina no homem. Não somos nós que inventamos o mito, é ele que nos fala como “Verbo de Deus”. O “Verbo de Deus” vem a nós e não temos nenhum meio de distinguir “se” e “como” ele é diferente de Deus. Nada há que não seja conhecido e humano a respeito do Verbo, salvo a circunstância de que surgiu espontaneamente diante de nós e nos dominou. Ele não depende de nosso arbítrio. Impossível explicar uma “inspiração”. Sabemos que a “ideia que nos vem ao espírito” não é fruto de nossas elucubrações, mas vinda de “algum lugar”, que nos invade. E quanto ao sonho premonitório, como poderíamos atribuí-lo à nossa própria razão? Em casos semelhantes, ignora-se muitas vezes e por muito tempo que o sonho contenha um saber prévio e a distância.

(…)

Esses dados que assaltam o homem e a ele se impõem, poderosamente, tanto vindos de fora como de dentro, consubstanciam-se na representação da divindade e é com a ajuda do mito que ele pode descrever seus efeitos; o homem compreendeu o mito como “Verbo de Deus”, isto é, como inspiração e revelação daquilo que as realidades do “outro lado” têm de numinoso.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 6106-6131.

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