O arquétipo de iniciação

Do ponto de vista psicológico, a imagem do herói não deve ser considerada idêntica ao ego propriamente dito. Trata-se, antes, do meio simbólico pelo qual o ego se separa dos arquétipos evocados pelas imagens dos pais na sua primeira infancia. O professor Jung julga que cada ser humano possui, originalmente, um sentimento de totalidade, isto é, um sentido poderoso e completo do self. E é do self (o si mesmo) – a totalidade da psique que emerge a consciência individualizada do ego à medida que o indivíduo cresce.

De acordo com minhas pesquisas, parece que o mito do herói é a primeira etapa na diferenciação da psique. Demonstrei que ele parece percorrer um ciclo quádruplo, por meio do qual o ego procura alcançar uma autonomia relativa da sua condição original de totalidade. Sem obter um certo grau de independência, o indivíduo será incapaz de se relacionar com o seu ambiente adulto. Mas o mito do herói não é garantia suficiente para essa libertação. Mostra apenas como é possível que ela aconteça para que o ego conquiste consciência. Resta o problema de manter e desenvolver, de modo significativo, essa consciência para que o homem possa viver uma vida útil, guardando a sua individualidade dentro da sociedade.

A história antiga e os rituais das sociedades primitivas contemporâneas forneceram-nos abundante material sobre mitos e ritos de iniciação, nos quais jovens rapazes e moças são afastados de seus pais e obrigados a se integrarem no seu cla ou na sua tribo. No entanto, nesse rompimento com o mundo infantil, o arquétipo parental original pode ser molestado, e para que tal dano seja sanado é necessário um processo “curativo” de assimilação à vida do grupo (a identidade do grupo com o indivíduo é, muitas vezes, simbolizada por um animal totêmico). Assim, o grupo satisfaz as exigências do arquétipo que foi lesado e torna-se uma espécie de segundo pai ou mãe, aos quais o jovem é simbolicamente sacrificado, renascendo numa nova vida.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 167-168.

II Os Mitos antigos e o homem moderno

Joseph L. Henderson

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