“Numa carta a Carl Seelig, o escritor e jornalista suíço que escreveu uma biografia de Albert Einstein, Jung escreve sobre a sua primeira e vaga suspeita de sincronicidade:
O Professor Einstein foi meu convidado para jantar em muitas ocasiões… Estava ele começando então a desenvolver a sua primeira teoria da relatividade. Procurava instilar em nós os elementos dela, com maior ou menor dose de êxito. Como não-matemáticos, nós, psiquiatras, tínhamos certa dificuldade em seguir sua argumentação. Compreendi, no entanto, o suficiente para formar uma poderosa impressão de Einstein. Foi, sobretudo, a simplicidade e franqueza de seu gênio como pensador que me impressionou de modo irresistível e exerceu uma duradoura influência sobre o meu próprio trabalho intelectual. Foi Einstein quem primeiro me levou a pensar sobre uma possível relatividade tanto do tempo quanto do espaço, a sua condicionalidade psíquica. Mais de trinta anos depois, esse estímulo propiciou o meu relacionamento com o físico Professor W Pauli, e a elaboração da minha tese sobre sincronicidade psíquica.”
“Cumpre reconhecer que a teoria dos arquétipos e do si-mesmo e a teoria da sincronicidade combinaram-se para criar um único tecido de pensamento. Essa é a visão unificada de Jung a que nos referimos na Introdução deste livro. Para apreender toda a extensão da teoria do si-mesmo, ela tem que ser considerada dentro do contexto do pensamento de Jung sobre sincronicidade; para apreender a sua teoria da sincronicidade, cumpre ter também em consideração a sua teoria dos arquétipos. Essa é uma das razões por que poucos psicólogos seguiram a orientação de Jung no tocante à teoria dos arquétipos. Ela torna-se metapsicológica, à beira de tornar-se metafísica, e poucos psicólogos se sentem à vontade em todas as áreas requeridas para abranger essa teoria em toda a sua plenitude psicologia, física e metafísica. É um nível intelectual que poucos pensadores modernos podem nutrir a esperança de alcançar. Os mestres universitários mostram-se sumamente cautelosos em dar um passo além dos limites das especialidades de seus respectivos departamentos. A teoria da sincronicidade ajusta-se à visão de Jung do si-mesmo como uma característica de radical transcendência sobre a consciência e a psique como um todo, e desafia as linhas de fronteira comumente traçadas para separar as faculdades de psicologia, física, biologia, filosofia e espiritualidade.”
“Não obstante, aos 75 anos de idade, deve ter sentido que adquirira o direito de entregar-se a essa espécie de especulação cosmológica. Estava pronto para mandar para o prelo uma de suas mais audaciosas noções, a unidade do si-mesmo e do Ser. É isso tão diferente de se dizer que o si-mesmo e Deus são um só? Ele aceitou o risco de soar como um profeta ou, pior ainda, como um excêntrico.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 4901-4977.
9. Do tempo e eternidade (O desenvolvimento da ideia de sincronicidade)