“Este conflito no ego entre individuação/separação e conformidade social gera muita ansiedade básica do ego. Como pode alguém ser livre, único e individual, tendo que ser também, ao mesmo tempo, aceito e querido pelos outros, acomodando-se aos desejos e necessidades deles? Existe claramente uma fonte de conflito fundamental entre 0 ego e desenvolvimento da personalidade.”
“O desenvolvimento da persona tem duas armadilhas potenciais. Uma é a superidentificação com a persona. O indivíduo preocupa-se excessivamente em agradar e adaptar-se ao mundo social e passa a acreditar que essa imagem construída é tudo o que conta para a formação da personalidade. O outro problema reside em não prestar atenção suficiente ao mundo dos objetos externos e em ficar envolvido, de um modo exageradamente exclusivo, com o mundo interior (uma condição que Jung descreverá como possessão de anima ou animus). Uma tal pessoa submete-se a impulsos, anseios, desejos e fantasias, e está tão dominada por esse mundo e identifica-se a tal ponto com ele que pouca atenção é prestada a outras pessoas. Por conseguinte, semelhante pessoa tende a ser indelicada, cega e sem qualquer afinidade com outras; e só renuncia a essas características quando forçada a fazê-lo pelos mais duros e cruéis golpes do destino.”
“O desenvolvimento da persona é tipicamente um importante problema na adolescência e início da idade adulta, quando há, por um lado, tanta atividade no mundo interior, tantos impulsos, fantasias, sonhos, desejos, ideologias e idealismos, e, por outro, tanta pressão dos seus iguais no sentido da conformidade.”
“Para os extrovertidos, entretanto, o desenvolvimento da persona é um processo mais simples do que para os introvertidos. A libido extrovertida vai para o objeto e fica aí, e os extrovertidos registram e relacionam-se com os objetos sem muito espalhafato ou complicação. Para os introvertidos, a atenção e a energia psíquica vão até os objetos mas depois retomam ao sujeito, e isso cria uma relação mais complicada com os objetos. Um objeto é não só algo fora da psique mas, para o introvertido, está também profundamente dentro da psique. O apego é mais difícil. Para os extrovertidos fica muito mais fácil, portanto, encontrar uma persona apropriada. Estão mais à vontade com o mundo dos objetos, porque ele não os ameaça tão intimamente. A persona do introvertido é mais ambigua, desconfiada ou vacilante, e varia de um contexto para outro.”
“(…)a persona deve relacionar-se com objetos e proteger o sujeito. Essa é a sua função dual. Embora os introvertidos possam ser muito abertos e expansivos com meia dúzia de pessoas, num grupo numeroso eles retraem-se e desaparecem, e a persona sente-se inadequada, sobretudo com estranhos e em situações em que o introvertido não ocupa um papel definido. Os cocktail parties são uma tortura, mas representar um papel num palco pode ser pura alegria e prazer. Muitos atores e atrizes famosos são profundamente introvertidos. Na vida privada podem ser tímidos, mas deem-lhes um papel público em que se sintam protegidos e seguros, e podem facilmente passar por ser os mais extrovertidos tipos imagináveis.
A persona, quando usada criativamente dentro do contexto de um forte desenvolvimento psicológico, funciona tanto para expressar quanto para esconder aspectos da personalidade.”
” O indivíduo pode, sem muito dano, identificar-se com uma persona na medida em que ela é uma verdadeira expressão da personalidade.”
“Essencialmente, a persona, que é a pele psíquica entre o ego e o mundo, é não só um produto de interação com objetos, mas inclui também as projeções do indivíduo nesses objetos. Adaptamo-nos ao que percebemos que as outras pessoas são e ao que querem.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 2942-3005.
5. O revelado e o oculto nas relações com outros (O desenvolvimento da persona)