“A unio mentalis, a unidade interior que hoje denominamos individuação, ele (Dorn) a concebeu como um processo de equilíbrio psíquico, de opostos “na superação do corpo”, um estado de equanimidade que transcende a afetividade e o aspecto instintivo do corpo. Ao espírito que deve ser unido com a alma, chamou-o de “espiráculo da vida eterna”, uma espécie de “janela para a eternidade” (Leibnitz)….
Mas para que ocorra sua reunião subsequente, deve-se separar a mente (mens) do corpo o que equivale à morte voluntária, porque apenas coisas separadas podem unir-se. Obviamente, Dorn queria mencionar uma discriminação e dissolução do “composto”, ao falar dessa separação (distractio); o estado composto era aquele no qual a afetividade do corpo exibia uma influência perturbadora sobre a racionalidade da mente. O objeto da separação era livrar a mente da influência dos “apetites corporais e das afeições do coração”, bem como estabelecer uma posição espiritual que se sobrepusesse à turbulenta esfera do corpo. Isso leva, de início, a uma dissociação da personalidade e a uma violação do homem meramente natural. Esse passo preliminar, por si só uma clara mescla de filosofia estóica e psicologia cristã, é indispensável para a diferenciação da consciência. A psicologia moderna usa o mesmo procedimento ao tornar objetivos os afetos e instintos e ao confrontar a consciência com eles.
O encontro com o inconsciente é, quase por definição, uma dolorosa derrota. Em Mysterium Coniunctionis, encontramos uma das mais importantes frases escritas por Jung: “A experiência do Si-mesmo sempre é uma derrota para o ego. Noutra obra, ele diz: “A integração de conteúdos que sempre foram inconscientes e projetados envolve uma séria lesão do ego. A alquimia expressa isso por meio dos símbolos da morte, da mutilação ou do envenenamento, ou por meio da curiosa idéia da hidropsia.
(…)
A mortificatio é experimentada como derrota e fracasso. Desnecessário dizer que raramente alguém opta por ter essa experiência. Ela costuma ser imposta pela vida, quer a partir do interior quer do exterior. De certa maneira, podemos experimentá-la de modo indireto por meio do grande instrumento cultural da mortificatio, o drama trágico. Em alguns casos, o drama pode oferecer mais do que uma experiência indireta. Se o momento for propício, pode ter um efeito indutivo e dar início a um autêntico processo de transformação do indivíduo.”
EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág.187-189.
Capítulo 6 Mortificatio Putrefactio