“Há diferentes nomes, de acordo com as diferentes provincias no Egito, mas a, ideia básica é a de que há uma espécie de espírito cósmico que reina sobre todos os diversos deuses do panteão egipcio, um deus que é o espírito do universo que tudo penetra, que reina sobre todos os outros deuses e os pode absorver.”
“Já perto da metade do antigo império, um dos deuses do panteão egípcio tornou-se mais e mais dominante. Como o professor Helmuth Jacobsohn mostrou, tratava-se do deus solar Rá. Isso corresponde a um típico desenvolvimento da consciência. Essa foi a época em que floresceram as artes de escrever e de gravar, a matemática, a medição e o mapeamento dos campos etc. Pela primeira vez no império egípcio foram deixados registros. Há aqui uma coincidência: quando o deus Sol, que é um princípio arquetípico da consciência, torna-se predominante numa civilização, há um súbito aumento da consciência racional.”
“Pode-se portanto dizer que termina a fase em que prevaleciam as regras instintivas e naturais que existem nos seres humanos, e que são bascadas em impulsos, agressividade e contra-agressividade, com o consequente estabelecimento de uma determinada forma de relacionamento de animais vivendo em grupos e lutando por seus territórios, e dessa maneira grande parte da impulsividade individual e instintiva foi controlada por regras fixas de lei e ordem, coincidindo com o domínio do deus solar Rá.”
Poder-se-ia dizer, portanto, que parte da individualidade primitiva dos egípcios foi nessa época para o inconsciente, e com ela também certo aspecto do afeto na vida emocional. Esse aspecto da vida comunitária egípcia concentrou-se na imagem arquetípica do deus Osíris. Osíris, ao contrário do deus Sol, ordenador e legislador, era o deus sofredor.”
VON FRANZ, Marie-Louise. Alquimia e a Imaginação ativa: estudos integrativos sobre imagens do inconsciente, sua personificação e cura. Ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Pág.12-14.
1. Palestra
Origens da Alquimia: Tradições extrovertidas e introvertidas.