O fogo do purgatório e Agostinho

“Agostinho faz duas importantes afirmações de cunho psicológico. Em primeiro lugar, o fogo do purgatório é causado pelas frustrações da luxúria, do desejo, do amor possessivo – numa palavra, pela concupiscência. Em segundo, podemos sobreviver a esse fogo caso tenhamos um forte fundamento em Cristo. Psicologicamente, isso significaria que o desenvolvimento psicológico será promovido pela frustração dos desejos de prazer e de poder, desde que a pessoa tenha uma relação essencialmente viável com o Si-mesmo simbolizado por Cristo.

(…) Orígenes, num comentário dessa passagem, equipara o fogo com as paixões do homem. Ele diz o seguinte:

Vejamos agora qual o significado do temido “fogo eterno”. Ora, diz o profeta Isaías que o fogo pelo qual cada homem é punido pertence a ele mesmo. Pois, diz ele: “Andai no lume do vosso fogo, e por entre as labaredas que ateastes.” (Isaías, 50: 11.)

Estas palavras parecem indicar que cada pecador ateia ele mesmo seu próprio fogo, não sendo atirado a um fogo que alguém ateou previamente ou que existia antes dele. Desse fogo, o alimento e o material são nossos pecados, chamados pelo apóstolo Paulo madeira, feno e palha na própria essência da alma, aqueles mesmos desejos daninhos que nos levam ao pecado produzem certos tormentos.

Considera o efeito das faltas da paixão que com frequência acometem os homens, como ocorre ao ser a alma consumida pelas chamas do amor, atormentada pelo fogo do ciúme ou da inveja, tomada pela raiva furiosa ou consumida pela intensa melancolia, lembrando como alguns homens, por considerarem o excesso desses males um peso demasiado para ser suportado, julgaram mais tolerável submeter-se à morte do que arcar com essas torturas.

Temos aqui uma interpretação psicológica do fogo do inferno notável, considerando-se que foi escrita no século III. Ela demonstra que, para os primeiros padres da Igreja, as realidades psíquica e teológica eram uma só. (…) É o destino daquele aspecto do ego que se identifica com as energias transpessoais da psique e as utiliza para fins de prazer ou de poder pessoais. Esse aspecto do ego, identificado com a energia do Si-mesmo, deve passar pela calcinatio.”

 

EDINGER, Edward F. Anatomia da Psique. O Simbolismo Alquímico na Psicoterapia, Ed. Cultrix 2006, Pág. 46-48.

Capítulo 2 Calcinatio

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