“Receava perder sua amizade de o deixasse penetrar no meu mundo interior que, talvez, Ihe parecesse muito estranho. Sentindo-me também inseguro quanto à minha própria psicologia, disse-lhe, quase automaticamente, uma mentira a respeito das minhas “livres associações”, fugindo assim à tarefa impraticável de esclarecer-lhe sobre a minha constituição psíquica, tão pessoal e totalmente diferente da dele.
(…) um ponto vital na análise dos sonhos. É menos uma técnica que se pode aprender e aplicar de acordo com as regras do que uma permuta dialética entre duas personalidades. Se tratarmos a análise como uma técnica mecânica, perde-se a personalidade psíquica da pessoa que sonha e o problema terapêutico fica reduzido a uma simples interrogação qual das duas pessoas em jogo o analista ou o sonhador dominará a outra? Foi por esse motivo que desisti do tratamento hipnótico, desde que não queria impor aos outros a minha vontade. Desejava que o processo da cura nascesse da própria personalidade do paciente e não de sugestões minhas, que teriam um efeito apenas passageiro.
Naquela experiência com Freud foi-me revelada, pela primeira vez, a noção de que, antes de construirmos teorias gerais a respeito do homem e sua psique, deveríamos aprender muito mais sobre o ser humano com quem vamos lidar.
(…) O indivíduo é a única realidade.”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 68-69.
I Chegando ao inconsciente
Carl G. Jung