“As imagens mais importantes do sonho eram: “o quarto destinado a receber os espíritos” e o laboratório dos peixes. A primeira exprimia de um modo burlesco o problema da conjunctio ou da transferência. E o laboratório evocava minhas preocupações relativas ao Cristo, que é, ele próprio, o peixe (ichthys). Havia ali duas ordens de preocupações que, por mais de dez anos, deixaram-me perplexo. Era singular que no sonho as ocupações concernentes ao peixe fossem atribuídas a meu pai. Ele tinha de certa maneira o encargo das almas cristãs, as quais, de acordo com as concepções antigas, são peixes presos na rede de Pedro. Era também singular que minha mãe aparecesse como guardiã de almas defuntas. Assim, no sonho, meus pais tinham o encargo da cura animarum que, no fundo, era a minha própria tarefa.
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Uma aceitação cega jamais conduz à solução; no melhor dos casos determina uma parada, uma estagnação e passa a carga à geração seguinte.
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Do mesmo modo que aquele que fere o outro fere a si próprio, aquele que cura cura a si mesmo.”
JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 3946-3976.
Gênese da obra