“Se um indivíduo teve uma longa e séria luta contra a sua anima ou contra o seu animus de maneira a não se deixar identificar parcialmente com eles, o inconsciente muda o seu caráter dominante e aparece sob nova forma simbólica, representada pelo self, o núcleo mais profundo da psique. Nos sonhos da mulher, esse núcleo em geral é personificado por uma figura feminina superior uma sacerdotisa, uma feiticeira, uma Mãe Terra ou uma deusa da natureza ou do amor. No caso do homem, ele manifesta-se como um iniciador masculino ou um guardião (o guru dos hindus), um velho sábio, um espírito da natureza, e assim por diante.
“Um rei ordenara a seus soldados que montassem guarda durante a noite em torno do corpo de uma princesa negra, que fora enfeitiçada. Todas as noites, à meia-noite, ela se levantava e matava um guarda. Finalmente, um soldado que deveria estar de serviço àquela hora consegue fugir, apavorado, para os bosques. Lá encontra um “velho violonista que era Nosso Senhor em pessoa”. Esse músico indica-lhe como se esconder numa igreja e o que fazer para não ser descoberto pela princesa negra. Graças a essa ajuda divina, o soldado consegue libertar a princesa do encantamento e casa-se com ela.”
Logicamente, o “velho violonista que era Nosso Senhor em pessoa” é, em termos psicológicos, uma personificação simbólica do self. Graças ao seu auxílio o ego evita a sua destruição e é capaz de vencer perigoso da sua anima.
O self nem sempre toma a forma de um velho sábio ou de uma senhora criteriosa. Tais personificações paradoxais são tentativas de exprimir uma entidade que não está inteiramente contida no tempo humano algo que é simultaneamente novo e velho. No sonho de um homem de meia-idade, vamos encontrar o self com traços de um jovem.
O self- o centro interior da psique total- é, muitas vezes, personificado nos sonhos como um ser superior. As mulheres pode aparecer na figura de uma deusa sabia e poderosa (…) A “fada-madrinha de tantos contos infantis é também uma personificação simbólica do self feminino: acima, na página ao lado, a madrinha de Cinderela (ilustração de Gustave Doré). Abaixo, uma solicita velha (também uma fada-madrinha) salva a menina (ilustração de um conto de Hans Christian Andersen).”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 261-262.
III O processo de individuação
M.-L. Von Franz