O semissonambulismo

“Na exposição do caso de S.W. foi designado com o termo “semissonambulismo” o seguinte estado: Um pouco antes e um pouco depois dos ataques sonambúlicos propriamente ditos, a paciente ficava num estado cuja característica mais marcante deve ser descrita como “preocupação”. Ela só participava da conversação com meio ouvido, respondia distraidamente, muitas vezes era afetada por todo tipo de alucinações, o semblante ficava solene, o olhar extático e penetrante. Uma observação mais atenta revelava profunda alteração em todo o seu caráter. Ficava séria e comedida; quando falava, o tema era sempre um assunto muito sério. Neste estado sabia falar com tanta seriedade, insistência e convicção que a gente quase tinha que perguntar se se tratava realmente de uma moça de 15 anos e meio de idade. Tinha-se a impressão de estar diante de uma senhora madura com grande talento teatral. A seriedade e solenidade de com-portamento se justificavam pela explicação da própria paciente: estaria, neste seu estado atual, no limite entre o aquém e o além e também em contato real tanto com os espíritos dos falecidos quanto com os dos vivos. E, de fato, sua conversação estava dividida entre respostas a perguntas objetivamente reais e entre respostas a alucinações. Ao designar este estado como semissonambulismo, baseio-me na definição de Richet, autor desse conceito: “A consciência desse indivíduo persiste na sua integridade aparente; contudo, ocorrem operações muito complicadas fora da consciência, sem que o eu voluntário e consciente pareça ressentir-se de qualquer modificação. Nele estará uma outra pessoa que agirá, pensará e quererá sem que a consciência, isto é, o eu reflexivo e consciente tenha a mínima noção”

JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013.

Paragráfo 77

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