O simbolismo animal

“Mesmo no cristianismo, o simbolismo animal representa um papel surpreendentemente importante. Três dos evangelistas têm emblemas de animais: são Lucas, o boi; são Marcos, o leão; e são João, a águia. Apenas são Mateus é representado como um homem ou um anjo. O próprio Cristo aparece simbolicamente como o cordeiro de Deus ou como o peixe; é também a serpente, louvada na cruz, o leão e, em alguns Casos raros, um unicórnio. Esses atributos animais de Cristo indicam que mesmo o Filho de Deus (a personificação suprema do homem) não prescinde da sua natureza animal, do mesmo modo que não dispensa a sua natureza espiritual. Considera-se tanto o subumano quanto o sobre-humano como partes do reino divino.

A profusão de símbolos animais na religião e na arte de todos os tempos não acentua apenas a importância do símbolo: mostra também o quanto é vital para o homem integrar em sua vida o conteúdo psíquico do símbolo, isto é, o instinto animal em si não é bom nem mau; é parte da natureza e não pode desejar nada que não pertença a ela. Em outras palavras, ele obedece a seus instintos. Esses por vezes nos parecem misteriosos, mas guardam correlação com a vida humana: o fundamento da natureza humana é o instinto. Mas no homem, o “ser animal” (que é a psique instintiva) pode tornar-se perigoso ão for reconhecido e integrado na vida o indivíduo. O homem é a única criatura capaz de controlar por vontade própria o instinto, mas é também o único capaz de reprimi-lo, distorcê-lo e feri-lo e um animal, para usarmos uma metáfora, quando ferido, atinge o auge da sua selvageria e periculosidade. Instintos reprimidos podem tomar conta de um homem, e até mesmo destruí-lo.

O sonho bastante comum em que o sonhador é perseguido por um animal indica, quase sempre, que um instinto se dissociou da consciência e deve ser (ou está tentando ser) readmitido e integrado na vida do indivíduo. Quanto mais perigoso o comportamento do animal do sonho, mais inconsciente é a alma primitiva instintiva do sonhador e mais imperativa é a sua integração à sua vida para que seja evitado algum mal irreparável.”

 

JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 320-322.

IV O simbolismo nas artes plásticas

Aniela Jaffé

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