“Na metade do século XX a pintura puramente abstrata, sem qualquer disposição regular de formas e cores, tornou-se a forma mais comum de pintura. Quanto mais profunda a dissolução da “realidade”, mais o quadro perde seu conteúdo simbólico. A razão desse fenômeno está na natureza do símbolo e na sua função. O símbolo é um objeto do mundo conhecido que sugere alguma coisa desconhecida; é o conhecimento expressando vida e sentido do que é inexprimível. Mas nos quadros somente abstratos o mundo conhecido é completamente afastado. Nada resta que permita lançar uma ponte para o desconhecido.
Por outro lado, essas pinturas revelam um segundo plano inesperado, um sentido oculto. Muitas vezes são imagens mais ou menos exatas da própria natureza, e mostram uma impressionante semelhança com a estrutura molecular de seus elementos orgânicos e inorgânicos desta mesma natureza, o que nos deixa perplexos. A abstração pura tornou-se uma imagem da natureza concreta. Mas Jung pode dar-nos, talvez, a chave do problema “As camadas mais profundas da psique”, disse ele, “perdern sua singularidade individual à medida que mergulham na escuridão. Nos níveis mais baixos, isto é, quando se aproximam dos sistemas funcionais autônomos, tornam-se cada vez mais coletivas até que se universalizam e desaparecem na materialização do corpo, ou seja, em substâncias químicas. O carbono do corpo é carbono, simplesmente. Assim, intrinsecamente, a psique é apenas ‘mundo”
JUNG, Carl Gustav. O Homem e seus símbolos. Ed. Harper Collins, 2016, Pág 357-358.
IV O simbolismo nas artes plásticas
Aniela Jaffé