“Na medida em que a consciência do ego de uma pessoa é identificada com a pessoa e está de pleno acordo com ela, não há lugar para qualidades de personalidade e expressão de individualidade que divirjam das imagens coletivas. O impulso para ser um indivíduo é suprimido (ou totalmente reprimido) no interesse da adaptação, a fim de “ajustar-se”. Quais possam ser essas qualidades individuais num caso particular não pode ser determinado examinando a persona. Elas podem estar de algum modo na apresentação da persona ou estar quase completamente excluídas. “Isto constitui uma regra fundamental que pude comprovar repetidas vezes. Entretanto, no que diz respeito às qualidades individuais, nada se pode deduzir [da personal nesse sentido. Apenas podemos estar certos de que quando alguém está identificado com sua persona, as suas qualidades individuais estarão associadas à alma. ”
Este é o homem no terno de flanela cinza, que pega o trem para o trabalho todas as manhãs no mesmo horário e está tão intimamente identificado com o seu papel coletivo que não tem personalidade fora desse quadro de referência. Sua singularidade inerente revelar-se-á na anima: ele será (talvez secretamente) atraído por mulheres extremamente contrárias aos padrões convencionais, porque elas representam para ele uma projeção de sua própria anima, retratam a alma dele, captam-lhe o espírito de aventura e ousadia. Precisamente a mesma regra vale para mulheres: quando são coletivas e convencionais em suas apresentações da persona, albergam um secreto amante interno (frequentemente inconsciente para elas) que é tudo menos o retrato de seu companheiro convencional. Quando ele aparece, magnetiza-as e leva-as a abandonar tudo para segui-lo.”
“O desfecho de um encontro real com alguém que é o portador da projeção da anima ou do animus “dá frequentemente origem, em sonhos, ao símbolo de gravidez psíquica, um símbolo que se apoia na imagem primordial do nascimento do herói. A criança que há de nascer representa a individualidade que, conscientemente, ainda não existe.”A real intenção psíquica do affaire entre o homem convencional e a sua nada convencional mulher-anima é produzir uma criança simbólica, a qual representa a união dos opostos em sua personalidade e é, por conseguinte, um símbolo do si-mesmo.”
Stein, Murray. Jung, O Mapa da Alma – Uma introdução. Ed. Cultrix, 2020, Local Kindle 3463-3480.
6. O Caminho para o interior (O desenvolvimento de Anima/Animus)