Prefácio: Léon Bonaventure

“(…) o desabrochar da humanidade e seu desenvolvimento faz-se primeiro através dos indivíduos, atingindo depois toda uma cultura.

(…) com Nietzsche, “esperamos que estamos longe hoje da ridícula pretensão de decretar que o nosso pequeno canto seja o único a partir do qual tenhamos o direito de ter uma perspectiva”,

Quanto ao termo “alma”, que Jung reintroduziu na psicologia, ele não tem nada a ver com o mesmo conceito abstrato da filosofia religiosa. É um dado de experiência, uma presença existencial a si mesmo no seu relacionamento com o mundo. Embora essa vivência seja individual, é uma realidade objetiva. Ao reconhecer no fenômeno psíquico a sua objetividade, Jung coloca definitivamente a psicologia no campo das ciências.

(…) Não se limitou apenas a compreender com o maior cuidado possível as imagens que emergiam, mas teve que explicar-se com elas e realizá-las em vida. Este último aspecto é fundamental, porém frequentemente negligenciado (…)

Para o autor, ela não é apenas o produto dos tempos modernos, mas uma etapa dum processo de individuação da civilização ocidental que se encontra frente a um impasse. Desde o surgimento dos tempos modernos, desenvolveu-se de maneira unilateral, apoiando-se exclusivamente no ego consciente, provocando assim um conflito em relação aos fundamentos instintivos da psique. A hipertrofia do ego consciente, chegando ao ponto de deificação (divinação), provocou uma revolta no inconsciente, manifestando-se num estado de angústia de toda uma civilização.

Talvez o qualificativo que lhe convenha melhor seja o de um médico humanista que deu forma nova, mas dessa vez empírica, ao esforço imenso do movimento humanista do Renascimento.

O que Goethe dizia de si mesmo pode-se perfeitamente aplicar à obra de Jung: “Se suprimisse tudo o que devo aos meus predecessores, restaria pouco. Minha obra é a de um ser coletivo que se chama Goethe.” Por sua vez Jung escreve: “Nós não somos os criadores de nossas ideias, mas apenas seus porta-vozes; são elas que nos dão forma… e cada um de nós carrega a tocha que no fim do caminho outro levará.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 146-220.

Prefácio à edição brasileira

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