Processo de individuação

“Na Dialética do eu e do inconsciente eu havia somente constatado aquilo que se refere ao inconsciente e como fazê-lo, mas isso não exprimia ainda nada sobre o próprio inconsciente. Ocupando-me assiduamente das minhas fantasias, tais pesquisas fizeram-me pressentir que o inconsciente se transforma ou provoca transformações. Só descobrindo a alquimia compreendi claramente que o inconsciente é um processo e que as relações do ego com os conteúdos do inconsciente desencadeiam um desenvolvimento ou uma verdadeira metamorfose da psique. Nos casos individuais é possível seguir esse processo através de sonhos e fantasias. No mundo coletivo, tal processo se encontra inscrito nos diferentes sistemas religiosos e na transformação de seus símbolos. Mediante o estudo das evoluções individuais e coletivas e mediante a compreensão da simbologia alquimista cheguei ao conceito básico de toda a minha psicologia, o “processo de individuação”.

(…)

Naturalmente, sempre se coloca novamente para mim o problema das relações da simbologia do inconsciente com a religião cristã e com as outras religiões. Não só deixo uma porta aberta à mensagem cristã, como a considero primordial para o homem do Ocidente. Ela deve, no entanto, ser vista de um novo ângulo, que corresponda às transformações seculares do espírito contemporâneo, sem o que será relegada à margem do tempo e a totalidade do homem não se encontrará mais inscrita nela.

Eis o que tentei descrever em meus trabalhos. Elaborei uma interpretação psicológica do dogma da Trindade,11 do texto da missa, que comparei ao de Zózimo de Panópolis, alquimista e gnóstico do século III.12 Minha tentativa de confrontar a psicologia analítica com as concepções cristãs conduziu-me finalmente à questão do Cristo como figura psicológica. Já em Psicologia e alquimia (1944), mostrara que a “pedra” (lapis), representação alquimista central, é uma figura paralela a Cristo.

Em 1939, dirigi um seminário consagrado aos “exercícios espirituais” de Inácio de Loiola. Preocupava-me ao mesmo tempo com os estudos preparatórios de Psicologia e alquimia. Uma noite, acordei e vi um crucifixo, ao pé do meu leito, banhado por um clarão de luz. O Cristo não era de tamanho natural, mas vi com nitidez seu corpo de ouro esverdeado. Embora magnífica, essa visão me espantou. Tais visões, entretanto, não são raras, pois vejo sempre imagens hipnagógicas plásticas.”

 

JUNG, Carl Gustav. Memórias, sonhos, reflexões. Ed. Nova Fronteira, 2019, Local Kindle 3848-3875.

Gênese da obra

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

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