Relação entre intelecto e vontade

 “Muito já se disse e escreveu sobre a relação entre intelecto e vontade. Se existe uma experiência que ensina que o agir depende da emoção, esta é sem dúvida a psiquiátrica. A inferioridade do intelecto, se comparada com os impulsos instintivos em relação às decisões da vontade, é tão grande que até mesmo a experiência diária de um pensador psicológico, não psiquiatra, como Baumann, levou-o a observar que a atividade específica de pensar vem sempre precedida de algo primariamente caracterológico que dá a necessária disposição para este ou aquele procedimento e com isso Baumann dá um outro torneio ao operari sequitur esse o agir segue o ser de Schopenhauer. O “primariamente caracterológico”, em sentido amplo, são as acentuações dos sentimentos, quer inexistentes, quer fortes demais ou perversas; e, em sentido estrito, são tendências e impulsos, aqueles fenômenos psicológicos básicos a partir dos quais construímos o caráter empírico que é evidentemente o fator decisivo da ação da grande maioria das pessoas. O papel que nisto desempenha o intelecto é praticamente secundário, pois o máximo que faz é dar ao motivo caracterológico existente a priori a aparência de uma sequência forçosamente lógica de ideias e, no pior dos casos (o que em geral acontece), constrói motivos intelectuais a posteriori. Este ponto de vista foi expresso em termos gerais absolutos por Schopenhauer da seguinte maneira: O ser humano faz sempre apenas o que quer e o faz necessariamente; isto se deve ao fato de ele já ser o que ele quer, pois daquilo que ele é segue necessariamente tudo o que faz a cada instante“.

“Mesmo admitindo que muitas decisões da vontade são intermediadas ou ponderadas pelo intelecto, não devemos esquecer que todo elo de uma cadeia de ideias tem determinado valor sentimental que é a única coisa essencial para se chegar à decisão da vontade, e sem este valor a ideia é mera sombra vazia. (…) Mesmo o processo intelectual mais puro só chega, portanto, à decisão da vontade através do valor sentimental. Por isso, o primeiro motivo de qualquer ação anormal, supondo que o intelecto esteja relativamente preservado, deveria ser procurado nó campo do sentimento.”

JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013. Pág. 144-145.

Páragrafo 220-222

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostei e vejo sentido em compartlhar essa ideiA

Facebook
Twitter
Pinterest

QUER MAIS?

Insanidade moral

“A deficiência moral (insanidade moral) é um estado congênito que se caracteriza pela ausência de

Leia mais