Relato das sessões Senhorita S.W

Primeira e segunda sessão, agosto de 1899. A senhorita S.W. assumiu de imediato o controle das “comunicações”. O “psicografador, neste caso um copo emborcado sobre o qual foram colocados dois dedos da mão direita, movia-se com impressionante rapidez de letra para letra (folhinhas de papel, com letras e números, haviam sido colocados em volta do copo). Foi comunicado que o avô da médium estava presente e que falaria conosco. Seguiram-se comunicações em rápida sucessão, a maioria delas de conteúdo religioso e edificante. Algumas vinham escritas de forma correta, outras com alguma troca de letras e outras ainda de trás para frente. Estas últimas palavras ou frases eram produzidas de forma tão rápida que não era -possível captar seu conteúdo de imediato, mas só posteriormente, ao inverter as letras. Em dado momento, as comunicações foram inter-rompidas de maneira brusca por nova comunicação anunciando a pre-sença do avô do autor deste livro. Neste momento alguém fez uma ob-servação jocosa: “Evidentemente os dois espíritos não se entendem muito bem”.

(…)

“Logo depois dessa sessão, S.W. tomou conhecimento do livro de Justinus Kerner, A vidente de Prevorst. Começou então a magnetizar-se após os ataques, por meio de passes regulares e por estranhos círculos e formas em oito que executava simetricamente com os dois braços ao mesmo tempo. Fazia isto, segundo informação dela mesma, para dissipar as fortes dores de cabeça que a atormentavam após os ataques. (…) Sempre que novo espírito aparecia, os movimentos do copo se alteravam de modo impressionante: corria ao longo da série de letras, tocava em uma ou outra letra, sem contudo formar nenhum sentido.”

(…)

“No dia seguinte, à mesma hora, novo ataque teve lugar. Depois que S. W. adormeceu, apresentou-se de repente Ulrich von Gerbens. tein, que se mostrou um conversador bem-humorado; falava com de. senvoltura o alemão clássico com acento do Norte da Alemanha. Perguntado sobre o que estaría fazendo agora a senhorita S.W., informou, após alguma hesitação, que ela estava bem longe, mas que ele estava aí para cuidar de seu corpo, de sua circulação sanguínea, de sua respiração etc. Também precisava evitar que algum preto dela se apossasse e lhe fizesse mal. Interrogado com mais insistência, disse que S.W. tinha ido com os outros ao Japão para encontrar-se com um parente longinquo e impedilo de fazer um casamento estúpido. Com voz bem baixa anunciou o exato momento em que o encontro estava acontecendo, proibiu qualquer conversa por alguns minutos, chamou a atenção para a momentânea palidez de S.W. e disse que a materialização a tão grande distância exigia o dispêndio de muita energia. Mandou que aplicassem compressas frias em sua testa para abrandar a forte dor de cabeça que ela sentiria depois. Com a volta da cor à sua face, a conversa tornou-se mais animada. Houve todo tipo de chistes infantis e trivialidades quando, de repente, U.v.G. disse: “Vejo-os chegando, mas ainda estão muito longe, vejo-os lá como Juma estrelinha”. S.W. apontou para o Norte. Perguntou-se naturalmente por que não vinham do Oriente. Ao que U.v.G. respondeu sorrindo: “Eles vêm pelo caminho direto do Polo Norte. Já vou indo. Adeus!” Logo a seguir S.W. suspirou e acordou. Estava de mau humor e se queixou de forte dor de cabeça, Disse que sabia que U.v.G. estivera ao lado de seu corpo e queria saber o que nos havia falado.”

JUNG, C.G. Estudos Psiquiatricos. OC, vol.1. Petrópolis: Vozes. 2013.

Parágrafo 45-51.

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